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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Jornalista - XV

- É impossível que não te tenham trocado! - vociferei, olhando incredulamente para a dureza patente no seu semblante e sentindo a raiva que ele sentia. - Por que me falas dessa maneira? - questionei. - Achas que me ando a atirar a Oliver? Eu nem sequer sabia do seu paradeiro! Não sabia se ele estava vivo ou morto! Bem ou mal! Nada! - fiz uma pausa. - Nada sabia eu dele até agora.
Coloquei-lhe a mão sobre o o seu peito. O seu coração batia aceleradamente. Nitidamente estava nervoso.
- Hazel... Hazel... - murmurou enquanto afastava o seu cabelo da cara. - desculpa-me. Eu não consigo conter as minhas emoções, os meus pontos fracos. Eu não sou de ferro e devia sê-lo. - constata com um laivo de morbidez.
- Ninguém é forte para enfrentar tudo e todos. Devias sabê-lo... - disse, levando-o a sentar-se no chão. 
Cooperou comigo. Sentou-se no chão gélido  encostou a sua cabeça à parede. Movia-a preguiçosamente.
- Sabes o que é quereres desistir e saberes que há alguém que te impõe um limite, alegando terminar com a vida de alguém se não terminares com a vida de alguém? - inquiriu-me sabendo que não iria obter resposta.
- Sabes o que é amar uma pessoa que pensas ser uma pessoa completamente diferente e deparaste com alguém, de facto diferente mas de uma forma que não esperavas? - questionei olhando nos seus grandiosos olhos.
Ele não pestanejou. Agarrou-me na mão firmemente.
- O que queres dizer com isso? - questionou olhando-me de soslaio.
Não respondi.
- Hazel, por favor, peço-te, imploro-te! - disse desesperado. - Não me deixes nem agora nem nunca! Não me faças apagar o único sonho que me resta nesta vida, na qual sou um joguete do destino!
- Jared... tu sempre soubeste o que eras. Estranho era se não tinhas consciência. Tu pediste-me vezes sem conta um filho. Alguém com quem pudesses lidar todos os dias, criar com o maior amor, ensinar a fazer diversas coisas! Tu pedisto-mo e eu concedi ao teu pedido porque tínhamos uma relação sólida, consistente. - fiz uma pausa. - Eu tive uma quota parte de culpa nisto tudo, tal como tu. Pensaste sequer no futuro de Jackie? No meu futuro? Eu vou ser sempre vista como "aquela que teve um filho de um assassino". Não achas irónica a nossa situação? - questionei, sorrindo sarcasticamente. - Eu, Hazel Clio Ackles, licenciada em criminologia mantive uma longa e séria relação com um assassino em série! - engoli a seco. - E depois? Temos de ser realistas. Não podes fugir constantemente às garras da polícia e eu não te vou ter constantemente ao meu lado para me ajudares. E emprego? Onde vou arranjá-lo? Na minha área posso, simplesmente esquecer. Ocultei uma informação vital para o encerramento de um caso... Percebes onde quero chegar?
Jared olhava-me incrédulo. Ele queria falar mas parecia que as palavras não lhe fluíam com rapidez suficiente. As suas capacidades cognitivas pareciam ter sido atrofiadas. Os seus olhos começaram a ficar vermelhos e aí apercebi-me do que havia dito. Desejei não o ter dito... pelo menos daquela forma...
- Hazel... - disse ele num sussurro. - Eu... eu não acredito que disseste o que ouvi... - voltou a sua cabeça para o outro lado, de modo a que eu não visse o seu rosto. 
Ele aproximou os seus joelhos do seu peito, envolvendo as suas pernas com as mãos. Pousou morosamente a testa nos joelhos.
- Jared... - comecei. - Jared... desculpa.
Abruptamente levantou a sua face e vi que ele estava a chorar. O meu coração partiu-se em mil bocadinhos. Tentei abraçá-lo mas ele repeliu-me instantaneamente. 
- Traduzindo o que me acabaste de transmitir: eu fui e sou uma completa desilusão, um tipo diferente mas completamente diferente daquilo que esperavas. Se tens estado a pensar na nossa separação desde o momento em que te contei toda a verdade... aconselho-te vivamente a deixares-me de uma vez por todas. Eu sei cuidar muito bem de mim, não vou fazer nada que te obrigue a ficares comigo. A mim não me interessa se és feliz comigo ou não. Vai-te embora então! - vociferou com a sua voz a falhar. - O Oliver deve estar felicíssimo! Deve até encomendar um espectáculo pirotécnico para esta noite! Vai! Diverte-te com ele! Esquece que eu existo e que alguma vez existi! 
Olhei para ele já com as minhas lágrimas a picarem-me os olhos. 
- Vai! - bradou enquanto se levantava.
Levantei-me também. Ia fazer-lhe a vontade. Peguei numa mala e enchi-a com roupas. Fitei Jared vezes sem conta mas ele limitava-se a olhar através da janela. Quando acabei, fiz questão de deixar bem claro que estava também eu magoada por ele não me ter deixado explicar, emitindo um som estridente ao deixar cair o meu perfume bem no meio do quarto. Ele não olhou. Caminhei lentamente até à porta. Rodei lentamente a maçaneta. 
- Hazel. - gesticulou morosamente, voltando-se. Também me voltei para ele. - És a única coisa neste mundo que me resta. A minha esperança e eu não posso deixar escapar por entre os meus dedos a única mulher que eu amei na vida. - aproximou-se. - Não me deixes sozinho. Não me deixes desorientado, sem apoio, sem vida... sem sentimentos... sem vida. Não me deixes num estado eminente de morbidez, de morte pessoal. Deixa-me viver o que me resta desta vida de liberdade contigo. - Entrelaçou os seus dedos nos meus. - Por favor, imploro-te. Não saias daqui. Fica comigo. Prometo que saímos ainda hoje deste hotel e vamos para uma casa. Não quero que vivas em más condições.
Tirei a mão da maçaneta e coloquei ambas em torno do seu pescoço. Ele sorriu com esforço. Esforcei-me também por sorrir. 
- Eu iria voltar para trás. - informei. - Eu não quis dizer o que imaginaste. Fizeste um filme dentro dessa tua cabecinha linda e imaginativa! - brinquei espetando o meu dedo na direcção da sua cabeça. - Eu quis dizer que se te acontecesse alguma coisa, eu não iria conseguir sobreviver. Habituei-me a ti, aos teus hábitos que passaram a ser nossos...
Atirei a mala para cima da cama. Jared cumpriu o que prometeu e conseguiu arranjar uma modesta casa nos subúrbios da cidade. Tinha um enorme alpendre onde estava disposta uma cadeira de balouço e uma mesa redonda ladeada de duas cadeiras de madeira. A porta principal acessava a um conjunto de compartimentos. A primeira porta que era de vidro e grande, dava acesso a uma sala com um tamanho considerável. Estava mobilada com mau gosto a nível arquitectónico. Seguia-se depois uma enorme cozinha que, contrariamente ao que pensava, era bastante moderna e sofisticada. Os electrodomésticos era de topo de gama, a mesa era enorme e de vidro. Existia também um enorme balcão. Abandonamos este compartimento e fomos para um dos quartos. As paredes estavam pintadas de branco imaculado. Não existia qualquer tipo de mobiliário em nenhum dos três quartos da casa. As casas de banho eram ligeiramente modernas. No rés do chão, havia um grande salão onde se podiam fazer as festas de aniversário e mil e uma coisas. Jared não exitou a comprá-la. O que mais me quezilou, foi o facto de ele me ter pedido para o acompanhar a lojas de mobiliário. Para mim qualquer coisa servia, mas não me valeu de nada tê-lo dito. Fui praticamente arrastada. O que me valeu foi o facto de as minhas pernas começarem a fraquejar e termos encontrado um mobiliário sofisticado.
Eu desconhecia por completo as habilidades de Jared. Não quis que ninguém o ajudasse a montar o mobiliário. Ri-me quando alegou saber como tinha de o fazer. 
Quando chegámos a casa, abri as janelas e reparei que atrás da casa havia um pequeno e agradável jardim, cheio de árvores frondosas e com um pequeno lago artificial.
- Gostas? - inquiriu enquanto tentava empurrar uma parte da cama.
Sorri e ajudei-o, embora ele me mandasse ir sentar na cozinha ou preparar qualquer coisa para comer porque já passava da hora. Jared tinha a mania de controlar os meus hábitos alimentares desde a gravidez. Insistia comigo para ter horários certos, para comer coisas saudáveis e para não fazer esforços. Acompanhava-me periodicamente às consultas, embora naqueles últimos meses tivesse falhado. 
Preparei uma sandes de fiambre, a primeira coisa que tinha comprado, dado que Jared insistiu que reabastecêssemos a dispensa com comida porque aquela seria a nossa nova vida. Depois de lanchar, dediquei-me a ler um livro que tinha trazido à socapa. Na verdade, não me conseguia concentrar. Decidi apanhar um pouco de ar, uma vez que a temperatura tinha descido consideravelmente devido à aproximação da noite. Tirei o meu telemóvel do bolso e digitei o número de Oliver, retirando-me o suficiente para Jared não me ouvir. A chamada estava a ser efectuada.
- Estou? 
- Oliver, és tu? - questionei com euforia.
- Hazel? O que queres? - inquiriu de uma forma mais dócil do que habitualmente.
- Nada. Onde estás?
- Como se esse delinquente não te tivesse dito! - sorriu ironicamente. - Ainda continuas com ele depois de saberes quem ele é, não é?
- Si, Oliver, é. - respondi.
Ele suspirou.
- Nunca mudas, pois não? Quando metes algo na tua cabeça, nunca mudas de opinião. - fez uma pausa. - Que fique bem claro que eu não te estou a fazer decidir entre mim e ele. 
- Oliver. Preciso de me encontrar contigo. Por favor. - pedi.
Ele suspirou.
- Pronto, diz lá. Quando?
- Daqui a duas semanas. - respondi.
- Está combinado. Promete-me que te cuidas. Se precisares de mim, liga-me. Estou disponível para te ajudar.
Desliguei a chamada e fui para dentro. Deparei-me com quase tudo montado. Fiquei boquiaberta com a sua rapidez. Ele olhou para mim, pousando o martelo e sorriu-me.
- O meu pai era carpinteiro. Eu ajudava-o nestas coisas. 
- Eu não disse nada. 
Ele levantou-se e dirigiu-se até mim.
- Que tal experimentarmos isto? - perguntou apontando para a cama.
Sorri.
- Tu consegues ser tão persuasivo! 
Ele sorriu. 
- Eu só não aguento mais que ninguém nos separe. Tu acalmas-me. Para além do mais, não podes fazer esforços. - fez uma pausa. - Deves estar deveras cansada e eu estou também estafado. Quero dormir. - sorriu como se estivesse a mentir. - Vou tomar um duche e volto já para aqui.
Desapareceu, fechando a porta. Vesti o pijama e deitei-me na cama que, efectivamente era confortável, esperando a sua vinda, na expectativa de viver aqueles dias como se fossem os últimos que iria viver ao seu lado. Algo me dizia que estava prestes a acontecer algo verdadeiramente mau.

6 comentários:

ana disse...

Eu não sou dessas pessoas de certeza!
Já agora, gostei muito, para não variar :)

ana disse...

Se amanhã tiver tempo, eu continuo :D

ana disse...

"isso dos elogior e relativo ha pessoal que comenta sem ler!" - comentaste-me isso, e eu não sou dessas pessoas :)

lara beatriz disse...

Oh obrigada e mais uma vez, está fantástico, continua. :)
beijinho :)

ana disse...

Ou não! A vida traz-nos muitas surpresas, às vezes.
Beijinho*

ana disse...

Se faço propaganda, é porque gosto mesmo muito do teu blog.
Acho que o melhor dia da vida de (quase) todas as pessoas é o dia em que nasceram!
Beijinho*