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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Como Desaparecer Completamente - Pretérito Divino (Cap.I)

As lágrimas escorriam-me pelo semblante abaixo imperiosamente embatendo no solo verdejante. A brisa marítima adejava suavemente as minhas vestes brancas imaculadas e o meu cabelo castanho escuro cuidadosamente penteado. Bizarramente sentia-me bem. Sentia-me bem porque iria deixar de ser cobarde, de ser a pequena estranha, a pequena aberração. Iria deixar de ser motivo de falatório por toda a cidade, de preocupação perante todos os psiquiatras e psicólogos de todo o Estado. Finalmente, aquilo que eu sempre planeara estava a um passo, a um exíguo passo de se concretizar. Pela primeira vez não sentia qualquer tipo de medo. Não tinha medo que ninguém me tivesse perseguido nem bisbilhotado o meu caderno. Não tinha sequer receio daquilo que me esperava.
Eu era uma descrente. Não acreditava em vida após a morte, em Deus nem em outro qualquer poder dito sobrenatural que exercesse sobre mim qualquer tipo de bênção. Aliás, eu era tudo menos uma criatura abençoada e dotada de qualidades que me permitissem enquadrar numa sociedade.
Eu tinha fobia a multidões. Odiava passear pelas ruas da cidade sozinha porque tinha fobia às pessoas. Os seus rostos pareciam criaturas monstruosas à medida que o tempo passava e eu passava por elas. Os seus rostos transfiguravam-se, transformando-se em demónios que me sorriam sarcasticamente e olhavam com desdém. Como se eu fosse um alvo a abater. Como se eu fosse a única pessoa diferente deles.
Eu fechava os olhos e voltava a abri-los e todos os transeuntes voltavam a ficar com os seus rostos intactos e originais. Minutos depois, as faces monstruosas e assustadoras voltavam à superfície como se fosse magia. Os esbugalhados olhos negros olhavam-me de novo e eu sentia-me definhar. Sentia as minhas costas curvarem-se como se alguém estivesse a exercer força sobre elas. Posteriormente, essas faces malditas começavam a rodear-me e a olhar-me e eu, caía como uma folha seca de uma árvore no chão com receio de ser pisada. Petrificada, com o suor a pingar e com dor de cabeça dilacerante, começava a bradar para deixarem de me perseguir e fechava novamente os olhos, colocando a minha cabeça nas rótulas dos meus joelhos na falsa esperança que a dor estagnasse. Porém, ela aumentava ainda mais de intensidade. A custo, abria os olhos morosamente, fixando cada semblante verificando se ainda permaneciam as faces monstruosas. Contrariamente às minhas expectativas semblantes perfeitos e humanos olhavam-me com estupefacção subtilmente misturada com preocupação e desdém. Cuidadosamente disfarçado, alguns murmuravam que a minha sanidade mental era escassa se não era já nula. Todavia, havia pessoas que me questionavam amavelmente se necessitava de alguma coisa e ajudavam-me a levantar. Sempre recusei qualquer tipo de ajuda e qualquer tipo de interferência na minha vida. A vida era minha, os problemas eram única e exclusivamente meus e de mais ninguém.
Mal podia, escapulia-me e corria até não puder mais. Até sentir sangue na minha garganta e me doerem os pés. Voltava a casa, acendia as luzes de toda a casa e metia-me debaixo do chuveiro, esperando, inutilmente que todos os meus devaneios, visões e audições momentâneas estagnassem. Posteriormente acendia a televisão e colocava o volume no seu máximo para não adormecer. Tinha medo de adormecer. Pesadelos assolavam-me de noite, fazendo com que eu acordasse do lado oposto da casa e, por vezes, acordava magoada ou com algo contundente na mão. Eu sonhava com coisas bizarras, com seres inimagináveis perseguindo-me numa estrada sem fim e eu corria desalmadamente descalça no asfalto até que parecia existir uma luz ao fundo. Como uma mosca atraída pela luz solar, continuava a correr na esperança daquela luz significar uma entrada na paz ou em algum lugar onde pudesse descansar e não ter receio de nada nem de ninguém. Porém quando inexoravelmente me aproximava dela, ela ia-se desvanecendo como um arco-íris após algum tempo. Finalmente tudo ficava com o ar apocalíptico outrora adquirido e eu continuava a lutar contra aquele obstáculo que se tinha interposto à minha passagem. Olhava constantemente para trás e aqueles espectros estavam prestes a alcançar-me. Desesperada, corria para os lados na esperança de encontrar uma saída mas uma fina mas poderosa película de vidro limitava-me. Eu esmurrava a superfície vítrea com os nós dos dedos mas ela não se quebrava, permanecendo intacta. Os espectros estavam a um mísero passo de me alcançarem. Eu encostava-me ao vidro gélido, ofegante e trémula e eles davam passos em minha direcção, não restando sequer vinte centímetros de distância entre nós. Em poucos segundos eles rodeavam-me e giravam em torno de mim, elevando-se num coro interminável de vozes graves proferindo versos da Bíblia Sagrada em Latim. Eu começava a gritar e a tapar os ouvidos. As suas vozes intensificavam-se e adquiriam um tom mais agudo com a passagem do tempo. Havia sempre um que se elevava mais e se aproximava de mim, bradando ao meu ouvido tão agudamente que se não soubesse que era um sonho, diria que me tinha furado os tímpanos. E aí... eu acordava ofegante, com suor na testa e com a televisão acesa.
Mas agora... nada disso se iria repetir. Nunca mais iria ter sonhos desagradáveis, ouvir vozes nem ver caras desfiguradas quando andava pela rua. Nunca mais iria sentir a sua falta nem minha e muito menos da minha patusca vida privada de tudo e todos.
Por momentos sorri. Um riso infantil e aliviador. Olhei para o meu carro estacionado perto da falésia e lembrei-me de como ele costumava conduzi-lo. Pousava o braço no vidro parcialmente aberto e abria a mão para sentir o vento. Depois sorria-me e pedia-me para eu fazer o mesmo. Eu acedia à sua proposta de bom grado, seguindo-se um demorado beijo. E foi aí, nesse demorado beijo onde  tudo se eclipsou.
As lágrimas voltaram a irromper-me violentamente os olhos. Vi o trovão lá ao longe anunciar a minha sentença. Segui-se outro quase de imediato e, posteriormente, fundiram-se num só emitindo um som arrepiante e estrondoso.
Senti o meu corpo tremer e visualizei mentalmente a sua imagem. Ele sorria-me levemente e proferia as palavras que qualquer mulher queria ouvir: "Amo-te para toda a eternidade." e eu repetia-o, mirando os seus olhos dourados questionando-me se efectivamente merecia assim um homem. Mas depois... aquela imagem obscura e contundente invadia-me violentamente a mente.
Olhei para baixo e atirei uma pedrita pequena para o mar ondulante e raivoso e confirmei que aquele local era óptimo. Abri os braços deixando o vento trespassante adejar o meu vestido. Mirei o céu e vi que as nuvens estavam quase a atingir o seu auge de saturação e sorri novamente. Dei um passo em frente. Restavam-me poucos. Uma gotícula de chuva atingiu o meu nariz, seguindo-se de muitas outras. Avancei mais um passo. O pretérito voltava a invadir a minha mente com imagens que eu esperava nunca esquecer até que, como se fosse para me magoar, as imagens mórbidas voltavam à superfície fazendo-me dar três passos seguidos.
Faltava-me um exíguo passo. Respirei fundo e olhei para trás. Eu conseguia vê-lo encostado ao meu carro com aquele sorriso fatal e convidativo. Hesitei e voltei-me na sua direcção mas a sua imagem já tinha se tinha desvanecido. Retomei toda a minha marcha sem pensar nele. Fechei os olhos e dei o último passo.
Desejei não o ter feito. Não sentir terra a segurar-me era aterrador. Logan não iria querer isto mas eu não conseguia viver sem ele nem com todas as minhas visões após a sua morte. Ele era a minha vida, o meu maior alicerce e como ele havia sido demolido... o meu mundo também tinha sido violentamente atingido.
Enquanto caminhava inexoravelmente para a morte, apesar de ser aterrador o facto de saber que estava prestes a embater nas rochas e a despedaçar-me como um copo de vidro colidindo no chão, eu sentia-me aliviada.
Ia ter com ele e isso bastava. Não pensava sequer no facto de os meus devaneios estagnarem. Pensava única e exclusivamente em vê-lo, tocá-lo e poder dizer-lhe tudo o que não lhe havia dito.
As rochas aproximavam-se. Cerrei os olhos instintivamente na esperança que a dor não fosse tão dilacerante. Embati impiedosamente contra a água salgada do mar, dando com a cabeça numa rocha.

(não tirem conclusões precipitadas porque isto não é uma história de terror e... à partida vai ter um final feliz! Espero que gostem!)

42 comentários:

alex disse...

ADOREI!
Tu explicas cada promenor tão bem «3
Só espero é que não seja triste.

Cassandra Lovelace disse...

fizeste-me chorar, amei mesmo . god, quero continuação imediatamente, e nao quero saber se é triste ou nao, a vida é mesmo assim. Opa, estou mesmo 'woow' e sem palavras, nao cnsigo explicar-te como deve ser como este capitulo me atingiu. amei amei amei e volto a repetir, quero continuação tipo já ,(ahaha)

kiss, Al*
(imprevisivel como sempre)

alex disse...

mm, tá bem xD
fico à espera ! «3

ps: qual é a data limite do concurso ?

Cassandra Lovelace disse...

e depois com a musiquinha de fundo foi tipo a cereja em cima do bolo!

De nada ora essa ;) verdades são para ser ditas, minha querida!

alex disse...

tché ainda falta muito xD
é para eu me ir apressando no pc xD

Anónimo disse...

OMG! Eu ao ler isto, fiquei com a boca aberta. Mais um bocadinho e babava-me.
Está mais que lindo! É do além!
Depois tudo isso e ainda mais com a musica. Nem tenho palavras.
Quero a continuação!
Beijinhos

alex disse...

ahah, eu vou ter tempo de sobra xD

Rita Farinha disse...

adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei, adorei *-*

SARA disse...

Adoro mesmo o teu blog :))

*

Unknown disse...

Escreve maravilhosamente bem, tem cuidado de todos os detalhes, faz com que mergulhemos no cenário da trama.

Aguardo continuação.

Cassie disse...

Prendeste-me a esta história *.* Tipo cativa tanto *.*
Eu também gosto mais do design actual , está mais suave, mas o que me chateia é que a música não está a funcionar --. Tenho de por Como tu.
Eu ando numa de frases e textos pequenos mas mais intensos. E é claro que não vou deixar o Blog.

fátima pereira disse...

obrigada *.*
EU TAMBÉM O QUERO XD

Joana Silva disse...

Adorei querida, é tão explicita cada palavra tua neste teu texto :D Fico à espera dos´próximos episódios :D

Sil' disse...

Gostei do que li (:
Sigo'te..
Segues'me??
Beijinhos*

Sil' disse...

Concordo plenamente contigo!
Tudo o que disses'te/escreves'te, simplesmente é verdade...
Ainda bem que concordas.. Bom, somos humanos (:
Muitos beijinhos* Gostei muito do que escreves (:

Cassie disse...

Tudo o que escreves é digno de se ler, e além do mais tão promonorizado (esta palavra nem deve existir)*.*
Ainda bem que gostaste, como eu tenho muitas reflexões, e segundo os meus amigos sou tipo Fernando pessoa, quanto mais bebeda melhor escrevo ahaha. E á coisas que digo e eles anotam, e depois leio e fica mesmo fixe :D

Cassie disse...

Eu adoro todas as músicas que tenho ali, queria por a dos Deep Purple primeiro, mas deu a dos Black Sabath --.

Andreia Mariana F. disse...

segunda-feira anuncio. PROMETIDO.
(e escreves lindamente. a sério)

sofiaszafman ♥ disse...

estava a adorar querida mas está gigante.
Li até « Mas agora... nada disso se iria repetir. » , porque preciso de sair, mas prometo vir cá de volta e ler o resto (:
já agora queria saber o nome da musica :$
é linda :)

Pat disse...

que blog lindo :o
Sigo **
Segues-me? :)

Rita Farinha disse...

obrigada honne

Anónimo disse...

Nem me agradeças por te seguir, porque AMEI por completo o que li!
Parabéns e estou ansiosa pela continuação (:

Sim, por muito que doa às vezes, mais vale saber por quem nos quer bem, do que não saber e caminhar sobre algo que não existe.

lara beatriz disse...

está liiiiiiiiinda *-* finalmente um final feliz (a)

Anónimo disse...

Eu confesso que cheguei aqui e fiquei assim: credo! tantas palavras!
Mas depois começei a ler e o interesse despertou e não consegui parar, porque está realmente muito bem discrito.

lara beatriz disse...

gostei muito mesmo! :) oh espero bem que tenha :c

Anónimo disse...

Qual obrigar-me, qual quê! Li de bom grado e tenho a dizer-te que está fantástico :)
Espero que continues 8D
Se não continuares, vou até tua casa (perguntou ao meu demónio desfigurado onde é) e obrigo-te a fazer ;D
Continua o bom trabalho!

Anónimo disse...

Porque haveria de ser mal aceite? :o
Só não aceitaria que tem mau gosto u.u'
É, eu dou-me muito bem com demónios e as pessoas acham piada a isso ò.ó
Só se for de chocolate *-* amanhã cá estarei para ler ;D

Pat disse...

Obrigado :D **

sofiaszafman ♥ disse...

De nada querida :)
obrigáda , eu agradeço :)
p.s. Li o resto que não pude ler, espero que tenha um final feliz porque o fim desta parte, parecia aterradora :s
quando ela bate com a cabeça numa rocha :o
enfim, beijinhos :D

Anónimo disse...

Ao menos escreves muito e bem, há quem escreva muito e não diga nada de jeito :\
Não tens mesmo nada que agradecer, eu só estou a expressar a minha opinião, mas a obra foste tu quem a fez :D

Vera Silva disse...

Obrigado eu, amei o teu blog <3 beijinho

Anónimo disse...

Se formos a pensar assim, a meu ver, a vida toda é um drama, mas daqueles bastante complicados e engraçados. Se não gostam de drama, também não devem gostar muito do que vivem, porque não é tudo como os contos de fada u.u'
É um humor negro do catano xD podes ser doida para uns e super esperta para outros (para aqueles que saibam apreciar as tuas piadas sobre demónios...os próprios! ai eu sou tão boa com piadas, man 8D)
Eu não me esqueço da amêndoa ê.ê
Boa Páscoa :)

Anónimo disse...

Há pessoas e pessoas, o que se há-de fazer, né? ^.^
Isso sim é humor, não é tipo Gato Fedorento! Apesar de eu ser uma super fã deles <3
Os góticos e os emo's são criaturas que têm de ser preservadas e acarinhadas por todos (isto são coisas que se aprende nas aulas de filosofia xD)

Anónimo disse...

Oh não é nada uma pena :) temos de ter quem nos contra diga, assim não tinha piada nenhuma ^.^
Não é pelas roupas, nem pela música que te tornas gótica/emo/whatever é mesmo pelas tuas atitudes e escolhas. Os verdadeiros góticos/emos/whatever até podem ser as meninas mais pop-star que há na turma :P
Os Gato Fedorento são reis 8D
Talvez amanhã ^.^

Anónimo disse...

Pois é! Quando alguém é do contra dá um enorme gozo ver as caras dos outros a esforçarem-se para fazer com que a pessoa mude de opinião, neste caso da opinião que é contra a deles :P

Anónimo disse...

Obrigado :)
Pensei nele enquanto estava a ver algumas imagens no wehaertit.com :)
O site tem mesmo imagens lindas <3

αиα яαqυєl ૐ disse...

A complexidade com que escreves fascina-me completamente! Adorei este texto apesar de só ter visto agora, vou já já ler a segunda parte! vou seguir (:

eliana disse...

omg O: tá lindo, lindo, lindo. exprimes tudo o que ela sente. sentimos tudo. nem sei exlicar como deve ser :D
Opa, amei mesmo. tá lindo. o.o

karina disse...

tu tens um enorme dom fofinha, amei imenso vou seguir esta história*

Anónimo disse...

Excelente! Vou ler o próximo capítulo :D!

Teresa Silva disse...

UAU! Não sei como explicar mas é uma história bastante cativante, só li este enxerto e posso dizer que fiquei desejosa por mais.
Parabéns, Hayley! De facto, parece que somos transportados para a história e conseguimos sentir o que a personagem sente! A tua escrita consegue o que muitos escritores não conseguem, a tua escrita é bastante cativante e surpreendente, verdadeiramente única…
Já te conheço há muito tempo, mas de facto cada vez mais me surpreendes (pela positiva, claro). Não sei o que dizer, simplesmente… UAU!!! Parabéns, continua…

Teresa Silva disse...

UAU! Não sei como explicar mas é uma história bastante cativante, só li este enxerto e posso dizer que fiquei desejosa por mais.
Parabéns, Hayley! De facto, parece que somos transportados para a história e conseguimos sentir o que a personagem sente! A tua escrita consegue o que muitos escritores não conseguem, a tua escrita é bastante cativante e surpreendente, verdadeiramente única…
Já te conheço há muito tempo, mas de facto cada vez mais me surpreendes (pela positiva, claro). Não sei o que dizer, simplesmente… UAU!!! Parabéns, continua…