Click here!

Se quiseres podes ver as minhas "histórias". Clica em "Minhas Histórias"!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Setembro - Destino (Cap. XIV)

Jason
- Tu deverias ter mantido a tua boca calada, Marcian! - resmoneei, exasperado. - Não devias ter-lhe revelado! Agora ela pensa que eu me aproximei dela por interesse quando eu me aproximei dela porque assim estava traçado! - continuei, olhando-o com ira.
Ele retraiu-se e olhou-me como um cachorro arrependido. Contrito, aproximei-me dele e coloquei-lhe a mão no ombro. Arfei e dei-lhe uma leve palmada no braço.
- Vá, não fiques assim. Sei que não agiste por malícia. Agora resta-nos procurá-la.
- Eu posso tentar perceber onde ela se encontra. - prontificou-se, enrijando o seu tronco e esbugalhando os seus olhos.
- Como? - interpelei.
Ele encolheu os ombros e adquiriu uma postura de quem parecia estar a cogitar.
- Bem, se eu fosse a Benedith, voltaria para a minha terra natal... - disse pouco tempo depois.
Inicialmente sorri com a barbaridade da sua resposta mas depois pensei e fazia sentido. Ela sentia uma falta tremenda da sua mãe e da sua irmã. Provavelmente, teria ido para lá, uma vez que elas seriam as únicas que lhe podiam prestar auxílio quando ela estava desgostosa. Por muito que pensasse que ela não precisava de ajuda para se restabelecer, achava que talvez as minhas conjeturas sobre ela não estavam plenamente corretas. Talvez ela precisasse mesmo de apoio.
Bufei de impaciência e puxei Marcian pelo braço.
- Vamos de imediato para Mystic Nights II, está bem? Temos de encontrá-la o mais rapidamente possível antes que Sean a encontre! - adverti, sentindo no meu estômago um nó. - Espero que já não lhe tenha preparado uma emboscada e lhe tenha feito mal.
- Não, não creio. Ela tem certos poderes que podem ajudá-la a desenvencilhar-se. Para além do mais, se algo lhe tivesse acontecido, terias sido o primeiro a sentir.
Franzi o sobrolho.
- Como sabes isso?
Ele encolheu os ombros e esboçou um doce sorriso.
- Está escrito na profecia. Se um de vocês findar, o outro não durará muito tempo. 
Ele começou a caminhar em direção a Norte e eu tardei a segui-lo.
- Então, não querias ir para Mystic Nights II? - indagou Marcian com um tom de ironia.
Corri até ele e seguimos em direção à terra natal de Ben. 

O frio entorpecia o meu corpo. A brisa glacial trespassava-nos e já nem as vestes que envergavamos serviam para nos resguardar do frio. Percorremos demasiados quilómetros naquele dia e já a meio da viagem encontravamo-nos exauridos. Decidimos para um pouco para descansar, retomando algumas horas depois o caminho.
Quando estávamos prestes a chegar, o cheiro a carne putrefacta e a fumo arrepiaram as minhas narinas. Incomodado pelo odor, cuspi no manto imaculado. Marcian olhou-me de sobrancelhas unidas, adquirindo uma posição defensiva. Desembainhei a espada e caminhei morosamente até ao arco em ferro forjado onde se encontrava o nome da aldeia. Abruptamente, vi fumo negro a sair das casas e um cheiro nauseabundo no ar que respirávamos. Tossi violentamente e coloquei, posteriormente, a mão sobre a boca.
- Isto é simplesmente nojento, Jason! Carnificina pura, por sinal.
Concordei e avancei. Senti um tumulto no coração quando pisei a zona limítrofe que separava Mystic Nights II de outra aldeola que eu não tinha conhecimento do nome.
À minha frente elevava-se o mesmo cenário que tinha assistido vezes sem conta: casas queimadas, corpos no chão exangues, cabeças longe dos corpos, alguns carbonizados e, estranhamente, uma cruz elevava-se no meio de todos aqueles corpos nauseabundos onde os abutres já os debicavam.
Marcian olhou-me expectante e fez sinal para avançarmos. Percorremos alguns metros e vislumbramos o homem que se encontrava lá pregado. A sua face balofa pendia-lhe e o sangue ainda escorria, embatendo na neve. Marcian olhou o corpo durante uns minutos e puxou um fio que sobejava no seu peito.
- Abnara. - pronunciou fazendo um esgar. - Mas que raio de nome!
- Sim, pois, olha que o teu também é muito vulgar. - pigarreei, revirando os olhos.
Ele cruzou os braços e adquiriu feições carrancudas.
- Bem, vamos procurar Ben. Ela deve estar por aqui, apenas espero que não esteja morta.
Começamos a virar os corpos para ver se ela estaria no meio daqueles corpos em decomposição. Rezei para que ela não estivesse lá mas, abruptamente, rodei o corpo de uma mulher de meia idade, cabelos negros, compridos, deveras parecida com Ben. Estremeci e afastei-me do corpo semi carbonizado.
Os olhos da mulher, penetrantes e incomodativos fixavam os meus. A sua boca encontrava-se semi-aberta como se tivesse algo para me dizer. Indubitavelmente, era a mãe de Ben. Fechei-lhe os olhos e coloquei a minha capa sobre o seu corpo.
- Jason, nada aqui. - anunciou. - O que tens?
- Encontrei a mãe de Ben. - respondi.
Ele retraiu-se.
- E... ela?
- Não, não a encontrei, felizmente.
- Isso quer dizer que ela não chegou cá. - constatou. - Ou que então Sean apanhou-a.
Dei-lhe uma pancada forte no braço. Ele queixou-se.
- O que queres? É verdade! - rosnou, incomodado.
Afastei-me daqueles corpos, contornando-os, e comecei a vislumbrar os outros corpos. Ben tinha-me falado na sua irmã. Certamente, não deveria ser muito diferente dela.
Após algum tempo de busca minuciosa, não a encontrei. Sentei-me numa pedra e cogitei. Marcian sentou-se ao meu lado.
- Já pensaste que isto pode ser um plano em conjunto de Sean com o meu pai? Algo para me destruir? Eu sou o seu inimigo.
Marcian arfou.
- Sim, já tinha pensado nisso porque isso está escrito. Há demasiados cartapácios na minha biblioteca pessoal que dizem isso e tu próprio sabes que isso vai acontecer. É algo inescapável. No entanto, não consigo prever um fim. Tudo está escrito, tudo está ditado, exceto o final.
Suspirei.
- Mas se fores destruído, ela também será destruída. E vice-versa. - continuou.
Enrijei o meu corpo e levantei-me num ápice. Senti medo do final. O pacto tinha sido propositado para Sean me destruir e, consequentemente, destruiria Ben. Cerrei o pulso, concentrando toda a minha força nele. Demasiadas ideias afloraram na minha mente. Claro estava que se ele queria ser indestrutível teria de ter os meus poderes e os de Benedith e se ambos findássemos, ele poderia ter tudo aquilo que ansiava.
- Vamos, Marcian, temos um longínquo caminho pela frente. Temos de encontrá-la, custe o que custar e temos de nos apressar a encontrar o meu pai e resolver este assunto antes que sejamos destruídos.
E caminhamos mais uma vez com dois objetivos incontornáveis: encontrar Ben e destruir o meu pai e Sean antes que eles decidissem dizimar-nos.

P.s Queria agradecer-vos por tudo e obrigada a estes novos seguidores! ^^