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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um Dia de Inverno

- Então, tu pensas que eu sou doido? - inquiriu ele troçando da minha excessiva preocupação. Ele estava a fazer de conta que se ia atirar de cima do penhasco.
Estávamos a uma altitude demasiado grande e com condições atmosféricas péssimas para saltar do penhasco. A chuva ameaçava cair sobre as nossas cabeças a qualquer momento e as ondas estavam gigantes. A praia estava deserta, apenas nós nos encontrávamos no penhasco.
- Nós estamos no cimo de um penhasco! - relembrei-o. - Qualquer passo em falso pode custar-te a vida!
Ele sorriu em sinal de troça. Finalmente ele aproximou-se de mim, abraçando-me.
- Emma, achas que eu vou dar um passo em falso? Mesmo agora que eu encontrei a minha razão de viver?
- Stephen, eu não quero estar aqui. Cada vez que olho para baixo, imagino que estás a cair. Eu não quero estar aqui. - concluí, afastando-o de mim.
Entrei no carro e cruzei os braços. Ele também entrou pouco tempo depois.
- Tu gostas deste local tanto quanto eu. Quando éramos crianças vínhamos para aqui depois das aulas e atirávamos pedras lá para baixo. Quando éramos adolescentes costumávamos saltar nas férias grandes! Ah! - Suspirou. - Como me lembro desses tempos! Aí já éramos namorados, embora eu desejasse tê-lo sido ainda mais cedo.
Subitamente ele beijou-me. Os seus lábios sabiam a sal mas não deixavam de ser carinhosos. 
- Claro que me lembro. Adoro relembrar-me disso. Também já gostava de ti há imenso tempo, embora agora o meu sentimento seja bem mais forte que gostar. - Sorri ao dizer-lhe isto.
Ele acariciou-me novamente o semblante ternamente.
- Confias em mim? - questionou.
- Eu confio mais em ti do que em mim, mas eu tenho um mau pressentimento... - confessei.
- Vamos lá para fora. Vais ver que esse pressentimento vai cessar.
Contrariada, saí do carro. E segui-o. Ele estava mesmo no limite. Para gozar comigo, fez de conta que ia cair. Corri logo para o seu encontro. 
- Tu não percebes? Não estás a ver como está o tempo? O céu está negro, há ameaça de chuva forte, as ondas estão fortíssimas! Nunca conseguirás sobreviver se caíres.
- Não sejas tão pessimista! - Agarrou-me pela cintura, puxando-o contra ele. - Eu hoje estou feliz, e sabes porquê? Porque estou contigo. Tenho que agradecer por te terem colocado na minha vida.
Fiquei simultaneamente corada e emocionada.
- Sabes que o mesmo se aplica a ti. Sabes que sempre serás meu, independentemente das opiniões. Terei sempre o meu coração preenchido por ti. Não sobrará espaço para ninguém. Nunca.
Ele virou-me para ele e beijou-me novamente. Senti-me como um anjo no céu. Para mim não restavam dúvidas. Ele era tudo para mim. Era o homem com quem eu queria passar o resto da minha vida. Era o homem com quem eu queria educar os meus descendentes. 
- Sabes que te amo, não sabes? - inquiriu.
- Sei. - respondi com um sorriso de orelha a orelha.
Ele meteu a sua mão no bolso do casaco impermeável e retirou uma pequena caixa azul de veludo. 
O meu coração começou a saltitar. Parecia sair fora do meu corpo. Os meus olhos começaram a ficar vermelhos, até que as lágrimas começaram a cair como uma cascata.
Eles estendeu-me a caixinha. As minhas mãos estavam trémulas. Peguei na caixinha e abri-a. As lágrimas impossibilitavam-me de ver com clareza do que se tratava. Era óbvio que era um anel mas eu não conseguia distinguir a sua forma. Limpei as lágrimas com o punho da camisola de lã. 
Não se tratava de um anel de noivado. Era simples, de ouro branco e tinha uma espessura considerável. Era um anel daqueles que os noivos colocam nos dedos no dia do casamento. Fiquei perplexa a olhar para Stephen. Ele estava com uma expressão estranha. Parecia estar à espera de uma reacção. Eu olhei para ele e olhei para o anel. Atirei-me ao seu pescoço.
- Porque é que tu és aquilo que eu sempre sonhei? Eu alguma vez mereci isto? 
- Eu quero passar o resto da minha vida contigo. Quero envelhecer ao teu lado. Quero cuidar de ti e proteger-te de todos os perigos. - Fez uma pausa e afastou-me um pouco dele. Retirou ainda outra caixinha. Trocámos as caixas. 
- Eu não quero esperar pela data do casamento. Não preciso que ninguém me abençoe nem preciso de padrinhos ou testemunhas. Eu quero casar contigo e agora. Quero fazer de ti a minha mulher. - Os seus olhos começaram a ficar vermelhos. - Não preciso daquelas palavras que se dizem porque todos dizem o mesmo e não cumprem.
- Eu aceito a tua proposta. - disse-lhe a chorar.
Em poucos segundos trocamos as alianças. Foi o momento mais mágico da minha vida. Sempre pensei que para um casamento ser levado a sério, deviam haver muitos convidados com vestidos fabulosos e eu própria com um vestido de fazer todas as convidadas suspirar! Mas não. O mais importante era saber que eu o amava e ele me amava. Nada mais nos interessava.
Depois das alianças colocadas e de estarmos casados, contemplamos a paisagem. Aproximámo-nos do limite. Ele colocou os seus braços em torno da minha cintura e sussurrou-me palavras lindas. 
- Eu comprei passagens aéreas. - anunciou. - É melhor irmos preparar as coisas, senhora Stahl.
- Está bem, senhor Stahl! - gracejei.
Estávamos prestes a dar o primeiro passo em direcção ao carro quando outro carro descontrola-se e vem na nossa direcção. Eu comecei a entrar em pânico. Stephen também. Não tínhamos para onde fugir e o carro vinha mesmo na nossa direcção. Quando restavam apenas escassos metros entre nós e o carro, Stephen empurrou-me com tanta força que eu dei com a cabeça numa pequena rocha. Quando olhei para trás para ver onde ele se tinha metido, vi que o carro o levava à sua frente. Tentei correr para alcançá-lo mas era tarde de mais. Apenas ouvi o som imperativo do carro a embater contra a formação rochosa, enquanto observava o cenário. Eu tinha-o perdido. Chorei de raiva. Chorei pela sua morte, chorei pela morte do meu marido. Gritei com Deus. Com aqueles que directa ou indirectamente tinham observado e não intercederam. Eu queria morrer! Queria que um raio caísse sobre a minha cabeça e me levasse também. Passadas algumas horas levantei-me. Limpei as lágrimas e olhei para o anel tão lindo. Dei alguns passos em frente, cambaleando. Lembrei-me do que lhe havia dito "Tu não percebes? Não estás a ver como está o tempo? O céu está negro, há ameaça de chuva forte, as ondas estão fortíssimas! Nunca conseguirás sobreviver se caíres." Era essa a minha saída. Era essa a única possibilidade de voltar a vê-lo. De voltar a senti-lo. Restavam-me dois passos. Hesitei. Pensei no seu sorriso encantador. Ir-me-ia dar coragem para o conseguir fazer. 
Dei um passo em frente. Restava-me apenas um. Cerrei os olhos e em voz alta pronunciei:
- Espera por mim. Irás envelhecer ao meu lado.
Dei um passo em frente.
By Hayley

4 comentários:

Kita' disse...

Tão bonito :D

Sophie disse...

Obrigada! :D

Anónimo disse...

Gostei muito «Hayley»!!! realmente andas muito sentimental. Beijocas

Sophie disse...

hihihi! Oh Anónimo que não és anónimo! Eu bem te avisei! Isto não é normal! :D