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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Código dos Assassinos

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(Esta talvez seja a história mais dura e estranha que alguma vez publiquei num blog)
A primeira vez que a vi fiquei estupefacto com a sua rebeldia apesar de ter vinte e cinco anos. Se a ouvisse a falar com alguém e não lhe vislumbrasse a face, diria que ela tinha cerca de dezasseis anos.
 Talvez fosse a primeira vez que ela tinha um emprego a sério. Deambulava sobre os seus sapatos com um tacão vertiginoso, carregando uma mala com cerca de cinco capas cheias de papéis. O cabelo estava preso mas desalinhado por causa do forte vendaval típico do mês de Outubro. Envergava uma saia preta daquelas que a minha mãe costumava usar num julgamento, um casaco cintado da mesma tonalidade que a saia e uma camisa, mal abotoada, branca. Parecia que estava a usar sapatos de tacão alto pela primeira vez. Dava dois passos e agarrava-se firmemente a algo e retomava a sua marcha lenta para a sua recente secretária. 
Eu não conseguia conter o riso. Era engraçado imaginar como é que aquela rapariga ainda não tinha caído com aqueles sapatos! Porém, ela apercebeu-se que eu a troçava. Lançou um olhar fulminante e os seus lábios contorceram-se, exclamando " Páre de zombar de mim!". Ora, eu nunca tinha sido muito sério mas, inconscientemente soltei outro sorriso. Ela continuou a deambular transportando as capas e tropeçando nos seus próprios pés.
- Precisa de ajuda? - questionei, rindo-me ainda dela.
- Não. - respondeu. - E escusa de dar um passo em frente para fingir que me ajuda porque eu não tolero que gozem comigo! - vociferou com ira.
- Você é que sabe.
Sentei-me na minha secretária e comecei a ler os casos que tinha para resolver. Um assassinato, um aparente suicídio, umas quantas violações e outros tantos assaltos a estabelecimentos comerciais e de ensino. Aquela semana ia ser desgastante mas o Chefe Lloyd tinha contratado alguém  para me ajudar com os casos, mas há mais de dois meses que esperava a vinda de uma mente brilhante. 
Abstraí-me do som proveniente dos queixosos e dos meus colegas de trabalho e foquei-me nos casos, estabelecendo um fio condutor para o caso do assassinato de Sean Toro. Haviam impressões digitais de várias pessoas, fios de cabelo e saliva no corpo da vítima. Faltavam pedaços de carne no corpo de Sean e foi encontrado no meio de uma mata a cerca de cinquenta quilómetros de sua casa. "Talvez os lobos o tivessem amordaçado", pensei. Arrumei o caso para o lado. Os resultados ainda não tinham chegado dos "ratinhos de laboratório", como costumava chamar aos membros do laboratório local.
Subitamente alguém pegou no caso que eu revira. Olhei para cima pronto a repreender o atrevimento. Era aquela rapariga insuportável.
- Ei! Esse caso é meu e, além do mais está na minha secretária! - vociferei.
- Desculpe?! Este caso é meu e esta é a minha secretária! - disse ela com a sua voz de espanta-espíritos. - Para além disso, essa cadeira é minha. - Apontou para a cadeira onde eu estava sentado.
Levantei-me freneticamente e olhei-a nos olhos. Ela não se moveu nem um milímetro. 
- Quem lhe disse?
- O Chefe Lloyd. - respondeu com calma com o objectivo de me irritar.
Bufei.
- Lloyd? - bradei. Ele dirigiu-se a mim. - O que é que esta intrusa está aqui a fazer? Está a dizer que o caso de Sean Toro é dela e que a minha secretária também! Por favor, diz-me que ela está só a pregar-me uma partida! Eu trabalho nesta secretária há quase seis anos! É como se fosse da família! 
- Bem, já que falas nisso, a menina Camille vai dividir a secretária consigo e vão dividir os casos. - anunciou o Chefe.
- O quê?! - inquirimos em uníssono. 
- Vá, vão trabalhar. É para isso que vos pago!
Ela puxou a minha cadeira e sentou-se começando a folhear o caso de Sean.
- Essa cadeira... - acabei por desistir e fui buscar outra para mim.
Quando cheguei ela estava a anotar as hipóteses. Dei uma vista de olhos.
- Páre de inspeccionar tudo aquilo que faço. Não gosto que façam isso. - disse ela enquanto escrevia outra hipótese.
- Já lhe disseram que é insuportável? - questionei enquanto me sentava e afastava o máximo possível dela.
- Já lhe disseram que é insuportável? - inquiriu ela também parando de escrever e olhando-me nos olhos.
Eu não conseguia olhá-la nos olhos. Tinha a tendência de desviar o olhar. Durante vários meses nunca soube a cor dos seus olhos. 
- Eu não gosto nada de si. - continuou ela. - Vai ser um suplício trabalhar consigo. Espero que me mudem o mais rápido possível. Odeio pessoas como você que pensam que são vitais e que têm poder. 
Calei-me e enterrei os meus olhos no computador. Durante vários dias não me apercebi da sua presença. Ela almoçava sozinha, não comunicava com ninguém e continuava a deambular com saltos altos. Ao fim de umas semanas de trabalho, e pela primeira vez, ela pediu-me opinião.
- Li e reli o caso de Sean centenas de vezes. Cheguei a várias conclusões. Fiz horas extra e descobri coisas que nos podem ajudar. Está disposta a ouvir em vez de disparatar e zombar das minhas conclusões?
- Vamos a isso.
Ela deu-me cinco folhas escritas com a sua letra delicada e comecei a lê-las cuidadosamente. Talvez ela tivesse razão quanto a alguns factos: o facto de ele não ter família pode ter a ver com o facto de ninguém o procurar; a saliva não era de nenhum animal. Segundo o laboratório era de humanos, quatro. Nas fotografias, com ampliação, era possível ver um dente incisivo cravado na pele de Sean. Todas as pistas levavam ao canibalismo. Faltava descobrir quem praticava esse tipo de "ementa".
- E então?
- Então, vamos falar com Lloyd.
Ela segui-me religiosamente.
Comunicamos tudo a Lloyd e ainda outro pormenor que chegou mesmo a tempo. Foram descobertos alguns fungos que eram típicos da Península Olímpica que ficava a cerca de cem quilómetros da localidade. Tivemos de nos deslocar de avião até à Península Olímpica. Teria de viajar com a impertinente Camille. 
- Quer a vá buscar a casa? - questionei tentando ser simpático.
- Não, obrigada. Sei conduzir muito bem. - respondeu com arrogância.
Mal cheguei a casa, preparei as malas e pela última vez olhei para aquela foto que me atormentava há anos. Pousei-a novamente e deitei-me na cama, aproveitando para descansar. Acordei no dia seguinte com o despertador. Tinha tido um sonho muito atribulado, cheio de mortes e desespero por minha parte e de Camille. Questionei-me porque raio tinha sonhado com ela. 
Conduzi o carro até ao aeroporto e fui fazer o check-in. Lá ao longe, destacando-se de toda a multidão por causa da ira estampada na sua face, encontrava-se Camille. Dirigi-me até ela, e vi que ela estava mais baixa que o costume. Fixei-a novamente e vi que a roupa formal que ela habitualmente usava era uma verdadeira fachada. Envergava, naquele dia, um casaco desportivo escuro com calças de ganga igualmente escuras. Calcava sapatilhas, o que me levou a raciocinar sobre o facto de não saber andar sobre tacões. Tinha também mudado de penteado mantendo o comprimento que tinha. Pela primeira vez reparei na cor dos seus olhos - eram azuis. Combinavam lindamente com a sua camisola e contrastavam com o seu cabelo castanho e brilhante. Pela primeira vez apercebi-me que ela falava comigo com sete pedras na mão por alguma razão. Tal como eu... Pela primeira vez apercebi-me que nunca lhe tinha dito o meu nome.
- Está aí? - inquiriu ela com um estranho leve sorriso.
- Sim, sim. Não me trate por "você". - disse meio aturdido.
- Então, como o devo chamar?
- Alec. Alec Williams. - respondi ainda um pouco perdido.
Ela assentiu com a cabeça.
- Estás muito estranho. Ainda não me trataste mal hoje. - observou ela enquanto caminhávamos em direcção ao avião.
- Tu também. Até me recebeste com um sorriso.
Ela soltou um sorriso abafado.
Camille passou a viagem a ouvir música e a ler romances. De vez em quando os olhos dela brilhavam, como que se fosse chorar. 
Eu, porém, olhava fixamente através da janela vislumbrando as nuvens e pensei na promessa que jamais cumprira. " Irei cruzar as nuvens. E tu estarás lá para ver."
Subitamente o telemóvel de Camille começou a tocar. Ela atendeu-o e subitamente a sua aparente boa disposição desvaneceu-se.
- O que se passa? - inquiri.
Ela não falou. Moveu os seus lábios e eu percebi algo como "Ameaça".
Lembrei-me do meu sonho mas tentei apagá-lo. 
Passamos várias semanas na Península Olímpica. Para mim, que era um amador nato de Sol, era um verdadeiro sacrifício permanecer num local onde chovia de forma copiosa. Cam não se parecia importar. Na verdade, eu e ela, tínhamos ganho mais confiança e ela já não me parecia tão imatura nem rebelde. Por sua vez, ela mostrava-se também mais simpática mas a sua bipolaridade mantinha-se. Descobri que tínhamos imensas coisas em comum. Fãs dos Yankees, fãs de U2 e amantes incondicionais de policiais e romances. Cam não falava muito sobre si. Falava apenas que tinha nascido no Texas e que se mudou para Oregon com seis anos com a sua mãe e a sua irmã mais velha. Entretanto, a mãe e a irmã morreram num acidente de viação no ano passado. Sobre o pai, nunca mais soube nada sobre ele. Falava muito da sua infância e da irmã que parecia ser o seu ídolo. 
Um dia convidei-a para jantar e ela aceitou com a condição de pagar a conta. Assim o fiz. Quando ela retirou a carteira da sua mala, abriu-a e o porta-fotos ficou voltado para mim. Apenas haviam quatro fotografias. A dela, a da mãe, a da irmã e uma outra de um homem com mais de trinta anos que estava fardado e com uma postura rígida mas engraçada. Ela viu que eu estava a olhar e fechou logo a carteira. Dirigimo-nos até ao hotel onde estávamos hospedados e cada um de nós dirigiu-se para o seu quarto.
Já passavam das duas da madrugada quando o meu telemóvel começou a tocar. Procurei-o e atendi-o.
- Estou?
- Podes vir até às escadas? Preciso de falar contigo.
- Estou a caminho.
Busquei um casaco e vesti-o desajeitadamente, calçando depois uns ténis à pressa. Ela estava sentada no cimo das escadas. Sentei-me também.
- Eu não faço ideia porque razão te vou contar isto. Não sei porque é que me fazes ficar bem-disposta. - fez uma pausa enquanto fumava um cigarro. Expulsou o fumo. - Eu vi-te a olhar para a foto. Eu... não queria ser investigadora, até à data. Nunca fui do género de ficar no mesmo local à espera que algo viesse ter comigo. Eu ia ter ao cerne do problema. Eu sempre fui ligada mais à força e não ao sentimentalismo. Eu nunca havia calçado tacões!... - sorriu levemente. - Eu queria ser militar. Queria entrar numa Guerra e defrontar o inimigo. Mas... há sempre um mas na minha história. Mas eu conheci-o. Meu Deus! Ele era tão lindo que eu ficava demasiado nervosa para falar com ele. Além disso, ele era mais velho que eu. E um dia o meu desejo concretizou-se. Quando lá cheguei, vi que aquele não era o meu mundo. Eu não sabia para onde me movimentar, eu não sabia para onde ir. Tentei esconder-me em algum local mas não havia onde. Eis que então alguém me acerta no braço. Jacob apercebeu-se e viu que se não fizesse nada, eu iria levar outro tiro e morrer. Então, ele colocou-se à minha frente no preciso instante em que alguém ia atirar sobre mim. Um tiro acertou-lhe em cheio no peito. E a seguir outro e mais outro. E nós íamos fugir após o primeiro confronto. Como referi, íamos mas ele morreu. - fez uma pausa. Olhei-a mas ela não brotava lágrimas. - A partir daí desisti de tudo. As minhas amizades romperam-se e dei um novo sentido à minha vida. Não sou a Cam divertida, com um óptimo sentido de humor, com um sorriso na face dia após dia. Sou a Cam melancólica, irónica, bipolar e irritante para além do insuportável. 
Sorri com o "insuportável".
- Eu não imaginava. Lamento, não quis ofender-te de forma alguma. Nunca pensei que tivesses enveredado por um caminho enredado. 
- Desculpa se fui desagradável. Eu sei que fui.
Fizemos silêncio.
- Eu... - comecei. - também tive uma história do género. - Retirei a fotografia de Zoe que tinha sempre comigo e mostrei-lha. Ela tocou com os seus dedos de criança na foto.
- Era muito bonita. - comentou ela, docilmente.
Ela era bonita. Completamente o oposto de Cam. Os seus cabelos eram loiros e compridos, encaracolados. Tinha uns olhos verdes e uma face angelical. Cam tinha uma beleza exótica. Morena, cabelos compridos e castanhos. Parecia uma fera.
- Ela fazia parte do Departamento de Justiça. Era justa. Demasiado justa para ocupar o seu cargo. Recebeu chamadas anónimas durante imenso tempo, ameaçando-a de morte. Ela aparentava não ter medo. Estava habituada àquele tipo de situações. Um dia, quando cheguei a casa estranhei a sua ausência. Tinha preparado uma presente surpresa para ela e ia buscá-la para irmos para o aeroporto, cujo presente era uma viagem de avioneta pelos céus da Europa. Eu sentia que algo não estava bem. Abri a porta da garagem e vi umas pernas balouçarem de um lado para o outro. Corri ao seu encontro. Uma corda apertava o seu frágil pescoço. Ela tinha-se enforcado. - fiz uma enorme pausa. - Ela não se enforcou. Alguém a enforcou. Alguém quebrou o seu pescoço e depois enforcou-a para que não desconfiássemos de ninguém. Para pensarmos que ela tinha-se enforcado. Por cima do capot do seu carro, estavam as suas chaves sobrepostas de um envelope. Ainda assustado abri o envelope e retirei um teste de gravidez. Positivo. Nunca descobrimos o assassino.
- Lamento, Alec.
Ela levantou-se e tirou do seu roupão um envelope. 
- Abre-o depois de saíres do meu quarto amanhã de manhã.
- Porquê?
- Depois vês.
Ela caminhou lentamente até à porta do seu quarto.
- Espera! - bradei. - Eu gosto demasiado de ti.
Ela sorriu.
- Eu também, mas não quero outro sofrimento. Não quero que seja de pouca dura. Não te esqueças do que te pedi.
Ela entrou no quarto. 
Durante a noite fui assolado de pesadelos e julguei ter ouvido a janela a partir. Talvez fosse dos sonhos.
Acordei cedo para a investigação. Tomei um duche e vesti-me, esperando depois pacientemente por Camille.  
Ela nunca mais abria a porta. Bati à porta, chamei-a mas ela não respondia. Resolvi arrombar a porta. Com toda a força que tinha embati contra esta e fiz com que ela caísse. Olhei em meu redor e vi que Camille não estava no quarto. Saquei do coldre a minha arma. Entrei na casa de banho e vi-a pendurada com uma corda a rodear-lhe o pescoço, tal como a Zoe. Não consegui conter as lágrimas. Recostei-me na parede branca imaculada e abri o envelope. 
" Alec,
Às vezes quem menos esperamos, trai-nos. Outras vezes quem menos esperamos, ama-nos. Talvez por saber o que me ia acontecer, contei-te a minha vida. Mas, agora não tens tempo. Foge! Corre! Começa a correr por entre os montes e os bosques! Eu sei quem matou Zoe. O seu caso passou também pelas minhas mãos. 53b45714n L|0y9 
Muito facilmente descobrirás quem a matou e quem me matou a mim. Encontra uma casa no meio do bosque. Está cheia de documentos pertencentes ao caso.
Boa sorte.
Com amor,
Cam"
Após meses de pesquisa no esconderijo de Cam, cheguei à conclusão que Lloyd era o pai da criança e que Zoe foi morta por ele por tentar dizer-me que Lloyd a violou.
Mas ele já pagou o que tinha a pagar.
By Hayley

5 comentários:

Anónimo disse...

olá Hayley, engraçado que quando comecei a ler, pensava na pessoa que tu és...mas acabei por a meio da história pensar que estava a ler um livro de uma grande escritora que escreve lindamente. (Tu no futuro)

Adorei a história, e principalmente o enredo super dramatico, Simplesmente FANTÀSTICO!

Sophie disse...

Ola! Obrigada! Mas usas te uma hoperbole! Nao e que nao gostasse de ser mas eu apenas sou uma amadora! Mas ainda bem que gostaste! Beijoca grande! :-*

Rita J. disse...

hey :D
gostas de Muse?
Só por isso já gosto de ti :)

ana disse...

Olá Hayley, só te queria dizer que gostei imenso, e que escreves mesmo muito bem, e que isto nem parece escrito por alguém do 11º ano.
Se explicasses pormenorizadamente como Alec descobriu que Lloyd era o assassino, isto dava um livro, sem dúvida!
Beijinho :)
(já te estou a seguir!)

ana disse...

Faz isso!