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domingo, 15 de janeiro de 2012

Setembro - Visão (Cap. XIII)

Finalmente acordei. O negrume envolvia-me como a noite que se fazia ver no exterior. Aturdida, com a cabeça a latejar e os braços doridos, que já não estavam acorrentados, tentei enxergar algo para além das trevas. Clamei por ajuda mas ninguém me ouvia. Abruptamente, lembrei-me que mais cedo ou mais tarde a mesma saga ir-se-ia repetir, visto que Jason não estava ao meu lado para anular as minhas saídas noturnas que sempre me deixavam num estado caótico. 
Recostei a minha cabeça latejante à parede gélida e envolvi os meus braços em torno do meu tronco, tal como Jason faria se ali estivesse. Enterrei o pensamento mas mesmo assim as lágrimas irromperam dos meus olhos. Apressei-me a limpá-las e a esquecer que alguma vez tinha acreditado no amor que um homem nutria por mim. Não tinha passado de uma armadilha onde eu caí que nem uma criança. Acabei por me deitar no chão, colocando as minhas mãos por debaixo da cabeça. O meu corpo enregelou em segundos e os meus dedos ficaram, quase de imediato, entorpecidos. Apenas as lágrimas é que pareciam fluir como um ribeiro, ao invés de também congelarem.
Esperei solenemente que a Lua se colocasse no seu ponto mais alto para toda a história se repetir e todos os pormenores assolarem a minha mente e fazerem-se adquirir um estado sorumbático. Adormeci por alguns minutos até que senti algo que, em exíguos segundos, me fez levantar sem que o meu cérebro desse ordem para tal. Comecei a caminhar, semi-inconsciente, até a uma porta de madeira esburacada. Coloquei o meu dedo indicador numa das fendas e desenhei uma espécie de retangulo que caiu do outro lado, emitindo um baque. Dobrei os meus joelhos, e desenhei outro, permitindo que eu passasse para além da porta. 
Percorri os corredores lúgubres repletos de animais mortos e num estado de decomposição já avançado libertando um odor nauseabundo. 
Finalmente, cheguei ao exterior e a Lua conduziu-me à colina mais alta que se podia vislumbrar. 
Como um raio num dia tempestuoso, cheguei ao topo e entrei no estado de transe habitual em todos os dias de Setembro, exceto aqueles dias em que Jason esteve ao meu lado. Mas esses dias tinham já terminado e nunca mais se iriam repetir.
O meu queixo elevou-se em direção à Lua, voltando à sua posição inicial poucos segundos depois. Fixei a povoação que se situava imediatamente abaixo da colina e a visão voltou. Não era como a habitual. Não era a visão daquele dia lúgubre e sorumbático em que eu tinha olhado para trás quando não o devia ter feito. Não era a morte do meu pai e todo o drama por que havíamos passado.
O som estridente de armas metálicas ecoava na minha mente. Homens trajados com fatos metálicos e com cristas avermelhadas e alaranjadas levavam pelo braço algumas mulheres e crianças que choravam e pediam para as largarem ou para deixarem ir os seus filhos. 
Os homens, de olhos duros riam-se das pessoas e levavam-nas para locais obscuros, levantando-lhes os vestidos e estrupando-as como se fossem insignificantes! Posteriormente, desembainhavam a espada e decepavam-nas em frente aos pequenos que assistiam a tudo com o olhar pregado neles, questionando, provavelmente, o que estaria a acontecer. Depois das mães, eram os filhos as suas vítimas. Faziam-nos girar nos seus braços partindo-lhes os ossos e cortando-lhes os membros. Depois da carnificina, atiravam-nos aos lobos que lambiam os beiços e se encontravam a uma distância considerável como se soubessem que se passassem daquele limite, poderiam não ter qualquer recompensa. 
Um homem que se fazia notar do resto dos combatentes devido à sua capa encarnada como o sangue e porte majestoso, observava de bom grado a eficiência dos seus subordinados. Abruptamente, um rapaz alto, sem qualquer tipo de proteção que o protegesse de um punhal ou espada, irrompeu por entre a floresta, levantando em direção ao seu duas espadas que se apressou a cravar nos primeiros dois peitos dos homens trajados. Com a cólera a assomar-lhe o semblante, continuou a chacinar os homens que prendiam as mulheres e as crianças. O seu cabelo claro e os seus olhos verdes, cheios de fúria fizeram-me lembrar Jason e senti o meu coração acelerar. Ele continuava a avançar sobre os homens, cravando as espadas no peito ou desferindo-lhes golpes fatais até que um homem lhe deu um golpe nas costas que o fez largar as espadas e soltar um grito sofrido. O mesmo olhar verde, o mesmo semblante com feições belas o fizeram cair por terra. Aturdido, tentou levantar-se mas outro golpe foi-lhe dado e ele acabou por deixar-se ficar estirado no chão a esvair-se em sangue. 
O homem, com um sorriso maquiavélico, afastou-se do corpo, que eu deduzi ser o corpo do seu filho e segredou algo ao ouvido do seu subordinado. Quatro homens fortes agarraram no seu corpo e atiraram-no para junto dos lobos que o olhavam como se estivessem esfomeados. Cheiraram-no e circundaram-no. Quando um dos lobos estava prestes a abrir a sua boca para lhe cravar os dentes, acordei com a respiração ofegante e as lágrimas a inundarem-me os olhos. A dor de cabeça que me atingiu, fez-me cair de joelhos no chão. Comecei a chorar e apercebi-me da dor com que ele deveria recordar aquele episódio em que o seu próprio pai o entregou aos lobos. 
Todas as peças soltas encaixaram como um puzzle. Os lobos devem tê-lo apenas transformado. O facto de ele ter formado a sua aldeia, apenas tinha derivado por aquilo que o seu pai lhe tinha feito. E Sean, o dissoluto do Sean, deveria ter alguma ligação com o seu pai. Algo me dizia que eles tinham um plano e que a Guerra estava próxima.
Como desejava que Jason estivesse ali! Como eu desejava que ele me puxasse para si, me beijasse vorazmente e me dissesse que me amava! Afinal, tudo o que ele tinha feito não tinha sido feito com malícia. Se eu tinha conseguido escapar de Sean naquela noite, conseguiria derrotá-lo se praticasse e conseguisse descobrir mais sobre mim e sobre os meus poderes.
Finquei os dedos no solo e tentei levantar-me. A dor era imensa mas teimei em me levantar. Tinha de encontrar Jason e Marcian mas antes, tinha de descobrir quem eu era. Tinha de descobrir as minhas origens e , sobretudo, descobrir aquilo que eu era capaz. 

5 comentários:

Sofia Costa disse...

Como sempre voltei a ficar tipo : Wow! :o Adorei! A maneira como descreves sempre as situações consegue prender-me ao enredo e transportar-me para a sua realidade! É como se eu vivesse as emoções dela, como se lá estivesse, na mente dela, a presenciar tudo aquilo! :D Está fenomenal! Mas, porque razão a visão é diferente desta vez? Queroo saber ! *o* kiss "."

Cassandra Lovelace disse...

PORQUE PARASTE!?
Adorei!! Estou ansiosa por esta reviravolta!
Quero, em breve mais e mais, ok!?
ps: já escrevi aquele capitulo de que te falei!
Beijos, Cassandra!

Laísa Couto disse...

Oi Hayley,

Estou te devendo a conclusão desta leitura. Fiquei feliz com seu retorno ao meu blog você é sempre bem-vinda. Agora, não consigo acessar os capítulos anteriores de Setembro, o que faço?

Ziza's N.E.M. disse...

Gosto da carnificina e da nostalgia que tem este capítulo.

Não é muito grande comparado com os outros comentários que fiz cá antigamente, mas diz também o necessário. :P

E cá está como disse, a minha marca de leitura.

Obs.: À medida que lia, pensava, "tenho mesmo que começar a aumentar o meu vocabulário e ler realmente um livro sem obrigação, mas como gosto". A literatura fornece uma perspectiva diferente do que é costume, por vezes...

Luciana Santa Rita disse...

Linda descrição! Assim, gosto da fidelidade dos lobos e do foco preciso.

Lu