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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Jornalista - XVI (penúltimo capítulo)

Eu adorava aquela casa. Amava acordar cedo para preparar o pequeno-almoço no jardim das traseiras e para sentir o Sol ardente a incidir sobre a minha pele clara. Com a minha ida para o Texas, a minha pele tinha-se tornado mais bronzeada devido à constante exposição solar. Amava ainda mais ver Jared espreguiçar-se e a conduzir-se preguiçosamente para a pequena mesa redonda de mármore, caminhando sobre a relva acabada de aparar. Sentava-se graciosamente e colocava um pouco de café na sua chávena, adicionando posteriormente um pouco de água quente. Preparava também o café para mim. Colocava sempre na sua torrada uma quantidade avultada de compota de morango. Ele era, sem réstia de dúvida encantador!
- Hum... tenho a cara com compota? - questionou vendo que eu o mirava com uma certa admiração.
Acordei do meu sonho.
- Não, estava só a olhar para ti. Estava a pensar... - respondi.
- Bem, estás demasiado absorta e isso preocupa-me... - Sorriu, limpando a boca com um guardanapo. - Hoje tive um sonho bom. Sonhei contigo.
Sorri, segurando-lhe a mão.
- Sonhei que era normal, que ninguém me perseguia nem vigiava... - continuou. - Jackson corria neste jardim com outra criança mas parecia não ser minha, sabes? - as suas sobrancelhas uniram-se. - Misturei-me com eles, mas aquela menina... eu sabia que era nossa mas eu não nutria por ela um sentimento tão profundo como sentia por ele. - fez uma pausa mostrando-se absorto. - Foi deveras estranho. - Sorriu e aproximou-se de mim para me beijar ternamente. - Como passaste a noite? - questionou enquanto debicava a sua torrada a transbordar compota.
Fiz um esgar com a boca.
- Dormi pouco. Ele estava agitado. - confessei. - Se calhar foi da cama nova. Não faço a mínima ideia. - disse enquanto bebia um pouco de café.
Ele puxou a sua cadeira aproximando-se de mim. Colocou a sua mão grande e protectora sobre o meu ventre enorme. Ficou feliz com sentiu um pequeno pontapé. Eu não achei tanta piada. Tinha sido forte.
- Uau! - exclamou. - Sentiste? Sentiste isto? Ele pontapeou! Grande homem que será! - exclamava maravilhado.
Limitei-me a permanecer calada. Ele pousou os seus grandes olhos azuis nos meus e acariciou-me o rosto.
- Eu quero que ele tenha os teus olhos, a tua boca, a tua face... - disse-lhe quase num sussurro.
Ele sorriu, contornando com os seus dedos a linha dos meus lábios. 
- Eu quero que ele seja feliz. Que se pareça contigo em todos os aspectos. Não quero que ele saiba que eu alguma vez existi se algo me acontecer. - disse-me não me encarando.
Levantei-me e procurei fitá-lo, mas ele levantou-se também e começou a levantar a mesa, alegando que devia obedecer-lhe e permanecer deitada ou então quieta. Na verdade, sentia-me estafada logo pela manhã e com dores nas pernas. Também não faltava muito para o seu nascimento. 
Dirigi-me para o interior da casa onde me entreti a dobrar roupa, fugindo às rígidas regras ditadas por Jared. Ele estava no jardim a arrancar umas ervas e eu podia vê-lo através da janela do quarto. O seu cabelo tinha crescido bastante desde os últimos tempos. Ele amarrou-o com uma das fitas com que eu costumava prender o meu cabelo. A sua t-shirt branca estava repleta de terra e as suas calças, já estavam coçadas. Nunca imaginei que ele fosse assim tão... trabalhador. Apesar do seu grande defeito, ele tinha qualidades de louvar. 
Por volta da uma da tarde, levou-me a almoçar num dos restaurantes mais chiques da cidade. Ora, a minha indumentária mais magnificente tinha deixado de me servir com a gravidez, pelo que tive de envergar um dos meus vestidos florais habituais e calçar umas sabrinas para o caso dos meus pés resolverem inchar.
Mal saí à rua, vi que todos os vizinhos nos sorriam e nos cumprimentavam. Algumas senhoras, com idade já para serem avós, questionavam quem eu era e como se chamava o rebento. Eu respondia, tentava ser simpática sem dar muitos pormenores. Jared também parecia ser admirado na vizinhança. Um homem cumprimentou-o e agradeceu-lhe por o ter ajudado a retirar o seu gato de um galho de uma árvore. As senhoras prometeram bordar babetes e tricotar meias para Jackson. Tentei impedi-las, dizendo com educação que o Texas era um local suficientemente quente para ele vir a usar meias de lã. No entanto, de nada me valeu. 
- Bem, tens um arsenal de pessoas a quererem oferecer-te coisas. - observou Jared quando já nos encontrávamos dentro do novo BMW.
Sorri.
Quando estávamos no restaurante notei que Jared estava muito absorto. Olhava fixamente para um ponto indefinido. Cheguei a desconfiar que ele olhava uma funcionária, mas ao seguir o seu olhar vi que ele apenas fixava uma parede. 
- Jared? - questionei. - Jared!
Ele estremeceu. Pousou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça nas mãos.
- Estás bem?
- Estou... só que... esquece. Isto passa.
- Jared, sabes que podes contar-me tudo.
Ele olhou-me com ternura e sorriu.
- Ficas tão linda nesse vestido e com essa barriga.... Não podes ficar assim para sempre? - questionou sabendo que era impossível.
- Ficaria, se permanecesses eternamente ao meu lado. - respondi.
O funcionário trouxe a lista da ementa. Jared não exitou a escolher. Eu li e reli a ementa mas não me apetecia nada daquilo. 
- Hazel, o que queres? - questionou.
O meu olhar oscilou entre o de Jared e o do funcionário. Tinha vergonha de o dizer. 
- Hum... Jared, - disse em tom de segredo. - não me apetece nada destas coisas demasiado chiques... - Olhei para o funcionário e diminui ainda mais o tom de voz. - Apetece-me um bife bem passado com batatas fritas. 
Jared não se conteu e deu uma gargalhada, zombando da minha vergonha.
- Se não se importa, traga-me um bife bem passado com batatas fritas, por favor. - anunciou exibindo um sorriso.
- Mas senhor, - começou o funcionário. - o Chef recusa-se a fazer esse tipo de pratos.
Jared tornou o seu ar mais sério.
- Amigo, está perante uma grávida. Aposto que não quer que o meu filho nasça com cara de bife, ou quer?
O funcionário anotou no seu bloco de notas.
- Vou ver o que posso fazer. - Saiu disparado que nem uma bala.
- Eu não acredito que tiveste vergonha! - disse Jared, sorrindo.
- Estou num restaurante rodeada de abutres que só pensam em dinheiro, em champanhe e em mil e uma coisas que eu nem sequer sei o nome! - Olhei à minha volta. - Achas que aquilo tira a fome a alguém? - questionei referindo-me a um casal que comia uma coisa muito estranha com um tom esverdeado. - Aquilo não me saciava a fome!
Ele sorriu novamente.
- Hazel, tu és tão... tu! És única! É por estas e por outras que eu te amo.
Sorri e ele esticou-se para me beijar.  
- Pensei que estes fossem os teus locais predilectos. - disse enquanto tragava um pouco de pão. - Quando saíamos, em Helena, levavas-me sempre a sítios bem acomodados com comidas requintadas. Para dizer a verdade, comi bem antes de vir... tinha medo de ficar com fome. - disse em tom de segredo.
Ri-me dele.
- Eu levava-te a locais onde se comia bem, isto é, em quantidade normal para um ser humano. Isto aqui é demasiado chique e todos olham com estupefacção para o prato que o funcionário traz. Olham-o com recriminação. - observei.
De facto, todos olhavam-no e ele, coitado, estava um pouco atrapalhado. O prato chegou bem cheio. Um bife cobria grande parte do meu prato, sendo preenchido por batatas fritas. A salada vinha à parte. 
- Senhor, o seu prato já vem a caminho.
Esperei por ele, mas estava com uma vontade enorme de devorar aquele bife suculento e aquelas batatas fritas tão estaladiças. Quando finalmente chegou o seu prato, comecei a debicar lentamente o bife, tendo a perfeita noção que todos os abutres milionários me olhavam com reprovação. Mas o sabor daquele bife colmatava aquele sentimento de vergonha. 
Ao olhar para Jared, sentia uma certa angústia. Algo, algo que inexplicavelmente me avisava que algo iria dar errado. Abruptamente o bife já não deslizava tão agilmente pela minha garganta. Parecia existir um obstáculo. A minha expressão tinha-se tornado mais taciturna. Senti a mão gélida de Jared tocar na minha. Estremeci.
- Hazel, . questionou com um laivo de preocupação. - estás bem?
Meia alienada, levantei-me sorrateiramente fazendo-lhe sinal para se manter sentado. Segui até à casa de banho, onde lancei uma torrente de água que me salpicou o vestido. Tirei da minha bolsa o meu telemóvel e digitei o número de Oliver. Esperei que ele atendesse.
- Oliver. Preciso de falar contigo. Hoje. - disse mal ele atendeu a chamada.
- Hazel, tens a certeza? Onde?
- Não sejas cínico! Sabes sempre onde encontrar-me! - disse num tom desesperado. 
- Está bem, está bem. 
Desliguei a chamada, esfreguei o meu rosto na toalha branca e felpuda, tentei secar o vestido e preparei-me para sorrir e fingir que tudo estava bem. 
Desloquei-me morosamente e vi-o a olhar-me com impaciência. 
- Hazel, estás mesmo bem? - questionou enquanto eu me sentava.
- Sim. - respondi. - Apenas quero sair deste restaurante. Acho que este bife me fez mal.
Jared pediu a conta ao funcionário e saímos. Não pude deixar de reparar na sua expressão facial.
- Desculpa... eu pensei que gostasses daquele restaurante. - disse quando já nos encontrávamos no carro.
- Não, aquele bife era demasiado grande para mim. - referi, mentindo.
- Para mim estava óptimo... - disse enquanto esboçava um sorriso.
- Eu sei. Tu gostas de comer bem.
Ele começou a conduzir o carro ao som de uma antiga música dos Air. 
Chegámos a casa e eu fui tratar de engendrar um plano para sair de casa. Jared sentou-se no sofá a ver um filme. Queria a minha companhia mas subitamente lembrei-me que podia dizer-lhe que ia a casa da senhora... hum... Rose para escolher... a cor da lã para uma camisola de lã. Assegurei-lhe que tinha de levar o carro porque ficava ainda um pouco longe e que iria voltar a casa intacta e que iria manter o meu telemóvel ligado. 
Peguei nas chaves e conduzi o BMW pela estrada fora. Tinha quase a certeza que o jipe preto estacionado e frente à nossa habitação era de Oliver. Coloquei as chaves na ignição arranquei, verificando pelo retrovisor que o jipe me seguia. Era Oliver. Conduzi até ao local menos óbvio possível e mais próximo do caminho que lhe tinha indicado. Assim podia ocultar parte da informação ou até deformá-la. 
Estacionei o carro e entrei num pequeno café. Vi Oliver sair do jipe. Esperei por ele. Estava abatido. Envergava umas calças de ganga coçadas nos joelhos, uns ténis All Star pretos e uma t-shirt branca. Tirou os seus Ray Bans e trazia o seu cabelo castanho claro espetado com gel, como nos velhos tempos.  Notei que o seu rosto expressava, de forma promíscua, saudade, estupefacção e desânimo. 
- Hazel... - disse ele dando-me um abraço. 
- Eu senti a tua falta, imbecil! - disse-lhe com as lágrimas a picarem-me os olhos.
Ele sorriu.
- E achas que eu não? Achas que não passei noites em claro a repensar na atitude que tinha tomado? A pensar o que seria melhor para ti? Não penses que és a única vítima em toda esta história. Eu sou essa personagem que pensas que és. Recusaste-me mesmo sabendo... mas não te recrimino.
Acariciei-lhe a face.
- Sabes perfeitamente o que penso e o que sinto. - retorqui. - Eu hoje não quero discutir contigo! Não te vejo há quase meio ano! Conta-me. O que tens feito?
Ele olhou-me de soslaio.
- Investigar, Hazel. É o que ando a fazer. - disse. - A propósito, Larry está à tua procura. 
- Eu não quero saber. Estou agora aqui e é onde pretendo estar. - disse.
Ele sorriu com escárnio e olhou-me de alto a baixo.
- És uma das mulheres mais interessantes que a minha vida alguma vez me revelou. - suspirou. - Ficas tão diferente nessa tua actual figura. Pareces tão matura... tão segura e simultaneamente frágil. Tenho medo de te tocar. - Deu um passo atrás. 
- Oliver! - disse indignada. - Eu sou a Hazel de sempre. Apenas tenho uma diferença: carrego uma criança.
- Não gosto dela. - disse rispidamente.
As lágrimas começaram-me a cair em catadupa.
- Sabes... eu... eu não me importei que vigiasses os nossos passos. - disse, soluçando. - E... agora... eu nem sei como ainda ligo a essas tolices que cospes dessa tua boca envenenada! - repliquei. 
Peguei na minha mala. Ele deu um passo à frente.
- Eu sei que necessitas de chorar, Hazel. Eu sei que vais precisar de chorar. - fez uma pausa, estendendo-me os seus braços. - Chora! Estou-te a oferecer os meus braços para chorares como nos bons velhos tempos. 
Imediatamente aceitei. Sentia-me tão bem quando ele me apoiava. 
- Hazel... eu tenho a dizer-te algo... - disse enquanto pousava o seu queixo na minha nuca. 
Eu continuava a molhar incessantemente a sua t-shirt com as minhas lágrimas.
- Diz. - disse com uma voz trémula.
- Mais dia ou menos dia... - parou. - ele será... preso.
A corrente de lágrimas aumentou. Não queria ouvir aquela palavra embora a verdade já me estivesse evidente desde que tomar conhecimento da situação. Mas era reconfortante viver na ilusão de que ele seria meu e para sempre meu. 
continua (penúltimo capítulo)... 

7 comentários:

Catarina disse...

devias publicar esta historia como livro
beautiful

Catarina disse...

nunca se sabe darling
obrigada *-*

Diana Pereira disse...

Escreves tão bem! *-*

Diana Pereira disse...

Quero rápido o ultimo capitulo, isto é viciante *-*

lara beatriz disse...

lindo! para não variar :)
continua assim, beijinho :*

Anónimo disse...

oh, es uma querida! ;)
beijinhos*

lara beatriz disse...

Não tens nada que agradecer. :)
Nunca pensei que esta história provoca-se esse efeito, mas ainda bem então. beijinho!