Senti os meus olhos abrirem-se. Olhei fixamente para o Céu negro e tempestuoso ainda deitada no asfalto precisamente no meio da estrada. Rodei a minha cabeça em ambas as direcções e vi que estava num local deserto. O único ser vivo que me acompanhava era o centeio que adejava violentamente ao sabor do forte vendaval. Levantei-me e sentei-me no asfalto questionando-me onde raio estaria e se aquilo era o Céu. Aboli logo essa hipótese: era demasiado apocalíptico para o ser.
Levantei-me calmamente e mirei as minhas roupas. Nunca antes as tinha visto. Os meus braços estavam nus e o meu corpo coberto por um vestido azul-escuro, quase preto, largo que me chegava até aos tornozelos. Olhei para os meus pés. Mais uma vez estavam descalços. Era impressionante o facto de eu não ter frio mesmo com aquele vendaval. Ergui os meus braços e alcancei o meu cabelo. Estava solto, tal como Logan gostava.
Dei uns passos em frente tentando perceber onde estava. Não tinha qualquer memória de um pretérito recente. Não me recordava da razão pela qual tinha ido parar àquele local. Dirigi-me para a berma da estrada, levantando um pouco o vestido para conseguir caminhar melhor.
Por muito bizarro que pudesse parecer, ali eu sentia-me bem. Sentia-me normal, sem vozes, sem rostos maléficos nem assustadores. Estava sozinha mas estava em paz, independentemente do local onde me encontrava. Baixei o meu olhar e continuei a minha marcha em direcção a lado nenhum. Subitamente vi um clarão seguido de um estrondo. Sorri. Lembrava-me daquele cenário, de um local mas não sabia o que estava a fazer nesse momento. Senti um calafrio que me percorreu a coluna e Logan irrompeu na minha mente.
Inesperadamente ouvi alguém clamar o meu nome.
- Ash! ASH!
Parei e soltei o pedaço de vestido que as minhas mãos seguravam. Tentei perceber quem me chamava.
- ASH! - fez-se silêncio. - ASH!
Reconheci aquela voz. Respirei uma lufada de ar fresco mas pesado e comecei a correr desalmadamente esboçando o meu maior e feliz sorriso.
- Logan? - inquiri bem alto.
Ouvi o meu nome novamente. Continuei a correr, rasgando pelo caminho a parte inferior do vestido para me facilitar a locomoção. Tratava-se de Logan! A minha felicidade era indescritível! Há cerca de dois anos que queria tocar-lhe, beijar a sua boca, sentir o seu calor e falar com ele.
- Logan! - gritava enquanto corria ainda com um sorriso estampado na face.
O forte vendaval não foi capaz de me demover. Eu estava suficientemente forte para correr contra ele só para ir ter com Logan. Os meus cabelos cobriam-me o semblante enquanto corria, aproveitei a parte que tinha rasgado do vestido para prender o cabelo.
- Ash! Onde estás? - bradou ele.
Estaquei e tentei discernir se a sua voz vinha de Norte. Abruptamente vi uma cabeça a elevar-se ao fundo da estrada com o cabelo puxado para trás devido ao vento e a perscrutar com os olhos onde eu me encontrava.
Quando o vi, o meu mundo parou. Não queria acreditar que era ele. O homem que eu amava, o meu melhor amigo, o meu companheiro, o meu mais que tudo. Com tanta emoção deixei-me cair de joelhos no asfalto. Não senti qualquer tipo de dor. As lágrimas caíam-me copiosamente molhando o meu vestido impiedosamente.
Olhei novamente para o fim da estrada e lá vinha ele com um sorriso enorme na face. Levantei-me e recomecei a correr ainda a chorar.
Escassos metros nos separavam até que ele estendeu os seus braços e eu entrelacei-me neles. Ele abraçou-me com força enchendo o meu pescoço de beijos enquanto eu chorava manchando a sua camisola azul-escuro. Afastei-me um pouco dele ainda com os meus olhos banhados em lágrimas e acariciei a sua face branca e o seu cabelo castanho. Olhei-o nos seus olhos dourados e esbugalhados, contornando com a polpa dos meus dedos o traço fino dos seus lábios. Logan beijou-me a mão e esboçou um sorriso.
- Eu senti tanto a tua falta. - disse recomeçando a chorar compulsivamente.
Baixei o olhar.
- Ash... eu esperei dois anos para isto acontecer. - disse-me com a sua voz suave e melodiosa.
Encostei a minha cabeça ao seu peito.
- Eu amo-te, Logan. Senti tanto a tua falta. - fiz uma pausa relembrando-me da minha insanidade. - Eu... não consigo, nem quero, viver sem ti. Foi difícil ultrapassar a tua morte, saber que nunca mais te iria tocar, beijar... acariciar. Na verdade, nem consegui ultrapassar.
Ele beijou-me serenamente a nuca.
- Eu sei. Eu sei de tudo e lamento. Lamento de verdade, sei o quanto sofres com todos os teus devaneios. - disse numa voz trémula. Começou a embalar-me. Olhei-o de soslaio.
- Tu sabes?
Ele fixou os seus olhos nos meus.
- Eu sei tudo. Sei que essas tuas visões só existem na tua cabeça. Tu crias monstros, demónios. É uma forma de construíres uma barreira entre a sociedade e entre ti, Ash. - fez uma pausa. - Eles não existem. Tu só os vês porque... estás doente. Tens de seguir em frente! Eu não pertenço ao teu mundo, não agora. - Largou-me e afastou-se, fungando. - Tu não conseguiste ultrapassar a minha morte porque estás presa a mim. Não consegues libertar-te e deixar de te culpar por algo que foi minha culpa. - A sua voz falhava e as lágrimas começavam a acumular-se nos seus olhos. - A culpa foi minha, Ashley. Minha e só minha. - fez uma pausa retomando todos os passos para me alcançar. - Não te podes culpar por algo que não cometeste. Eu morri. Tu sobreviveste. Era isso o que eu mais desejava! Eu ter-me-ia suicidado se tivesses morrido em minha vez e sendo a culpa minha. - Sorriu ironicamente. - Mas eu morri sendo a culpa minha! Eu quero-te ao meu lado, anseio-te cada vez mais, sinto a tua falta, da tua maneira de ser, de agir e de falar. Sinto falta de tudo o que é mundano. Sinto falta de casa e de nós, Ash. - Baixou o olhar. - Mas eu não tenho hipótese. Tu tens.
Olhei-o e recostei-me nele chorando ainda mais.
- Por favor, não digas tais coisas. - pedi-lhe.
Ele afagou o meu cabelo e puxou o meu rosto na direcção do seu, beijando-me subtilmente. Passado algum tempo, largou-me e sorriu.
- Eu amo-te para toda a eternidade. - disse-me. Eu repeti as suas palavras e ele fez-me rodar sobre o seu braço ficando eu de costas para ele. Beijou-me o pescoço.
- Eu nem acredito que estou a falar contigo, a tocar-te. - fiz uma pausa, maravilhada. - Isto é o Céu? - questionei, ingenuamente.
Um silêncio perturbador fez-se ouvir. O vendaval estagnou, os trovões já não se faziam ouvir e o burburinho do centeio a agitar-se tinha-se silenciado.
- Isto é o teu sonho, Ashley. - disse-me ele, friamente. - Tu não estás morta.
Larguei-o e olhei-o unindo as minhas sobrancelhas não acreditando no que ele me havia dito.
- Isto é o teu sonho. Não é o Céu. - repetiu, esclarecendo-me.
- Es-stás a dizer-me que não vou ficar contigo? - questionei, gaguejando.
Ele baixou o olhar.
- Sim, eu só estou aqui porque ansiava ver-te e falar-te. E tu só estás cá porque estás a sonhar. - informou monocordicamente.
Olhei-o com estupefacção sentindo o meu mundo a abater-se inexoravelmente sobre mim.
- Não. - disse. - Era suposto eu estar morta!
- Ash, por favor, tenta compreender, não é a tua hora. - referiu tentando alcançar-me com as suas mãos.
Lancei-me aos seus braços.
- Não, por favor, não! Suplico-te! - bradei. - Deixa-me ficar contigo! Não quero voltar àquele mundo! Não quero voltar a ver aquelas faces horripilantes a fixar-me! Não quero ouvir vozes e ter sonhos bizarros! Por favor, Logan, não me deixes ir! NÃO!
- Ash, tu estás doente! - referiu novamente encostando o seu rosto na minha nuca. - Não podes ficar cá, não agora. Tudo acontece na sua devida altura e esta não é a mais acertada. - afastou-me e olhou-me nos olhos. - Cada vez que tentas fazer mal a ti própria eu sinto. É como se estivesses a cravar-me um punhal no abdómen. Por favor, peço-te isto, eu sei... - olhou para trás como se alguém o estivesse a chamar. - eu peço-te apenas para deixares de ser como és. Deixa que te ajudem. Esses monstros estão na tua cabeça. Eles não existem, nunca existiram nem existirão. É tudo, tudo na tua cabeça. - fez uma pausa, segurando-me o queixo. - Ashley, independentemente de eu estar aqui e tu lá, eu amar-te-ei incondicionalmente e embora me doa saber que vou ter de te deixar... irá ser o melhor que eu posso fazer por ti.
Dito isto, as lágrimas irromperam-lhe discretamente pelos olhos e puxou-me contra si. Eu ainda estava a assimilar toda a informação que ele me tinha debitado. Após algum tempo e vendo que nada podia fazer para permanecer junto de Logan, abracei-o, rodeando os meus braços na sua cintura. Estivemos assim imenso tempo.
- Está na hora. - referiu, afastando-me de si.
- Logan... - disse choramingando.
- Por favor, não me faças revoltar contra nada nem ninguém. Vai. - disse-me apontando com o seu dedo indicador para Sul.
Baixei o olhar.
- Não podes reencarnar ou algo do género em alguém? - abordei ingenuamente.
Ele sorriu secamente.
- Se há coisa que muita gente está enganada é na reencarnação. Eu sou eu e não posso invadir o corpo de ninguém. Não acharias de certa forma contraditório dizer, se efectivamente a reencarnação fosse realizável, que o ser-humano é único? - questionou retoricamente. - Isso não acontece. - concluiu.
Novamente o som imperioso de um trovão fez-se ouvir. Olhei para trás. Logan segurou-me as mãos e com um semblante onde predominava o desespero e a dor, sussurrou:
- Segue para Sul. Chegarás lá.
Finquei os meus pés ao solo.
- O que acontece se eu não for? - questionei vendo uma pequena luz ao fundo que anunciava que podia ainda morrer e permanecer com ele.
- Eu... posso perder-me. - respondeu-me. - Por favor, vai! Ashley, vai! Corre na direcção do vento, para Sul!
Dei-lhe um último abraço e beijei-o morosamente. Começei a correr o mais que podia olhando constantemente para trás. Ele permanecia precisamente no mesmo local mas com os joelhos no chão. Parei novamente e tentei correr na direcção dele. Porém, não me conseguia voltar totalmente. Parecia existir algo que me impossibilitava de voltar atrás. Subitamente, senti que nem para a frente conseguia correr e algo me começou a apertar o pescoço.
- Logan! - bradei.
Ele levantou-se e olhou para mim. Correu até ao local onde eu me encontrava e começou a pontapear o que me prendia. Eu não conseguia ver o que me prendia mas Logan conseguia ver muito mais que eu. Eu não duvidava que se tratasse de algo sobre-humano, algo que os meus deficiente olhos humanos não conseguiam detectar. Os seus pés moviam-se furiosamente, embatendo contra o que me estava a asfixiar lentamente. O ar começava a ficar cada vez mais escasso. Agradeci mentalmente à entidade que estava a fazer-me morrer. Abruptamente senti a minha garganta solta e os meus pulmões e encheram-se de ar. Caí no asfalto e ouvi vidro a partir-se aquando a sua queda.
Logan ajoelhou-se novamente e com um olhar esgazeado e respiração acelerada, debruçou-se sobre mim vendo se eu respirava. Com a mão trémula toquei-lhe na face.
- Por que não me deixaste ele asfixiar-me? - questionei-o. - Seria fácil.
Ele pegou-me e transportou-me nos seus fortes braços.
- Porque te amo. É essa a resposta, Ash.
Deixei-me transportar e encostei a minha cabeça no seu braço. Ele caminhava para Sul. Lembrei-me do que ele me havia dito "Eu... posso perder-me.".
- Logan, espera, por favor, eu vou sozinha. Podes perder-te. - disse, fazendo-o parar.
Ele sorriu-me docemente e beijou-me a testa.
- A partir do momento em que se luta para salvar a vida de alguém, está-se perdido. - Voltou a sorrir como se nada tivesse passado. - Serei o eterno pecador. Não me arrependo.
Olhei-o duramente. Eu não sabia o que era ficar perdida naquele contexto. Seria nunca mais encontrar a paz? Nunca mais encontrar nada? Não o abordei. Seria contundente sabê-lo.
Pousou-me lentamente no chão e beijou-me uma última vez. Abraçou-me e embalou-me, sussurrando-me palavras harmoniosas ao ouvido.
Comecei a caminhar novamente e vi uma luz a ofuscar. Presumi que aquela fosse a minha saída. Corri para alcançá-la. A um exíguo passo da vida, olhei para trás e Logan acenava-me tentando manter uma cara alegre quando, no fundo, o seu coração esmorecia. Tentava manter os seus olhos límpidos quando lhe apetecia chorar. Eu sabia. Eu conhecia-o como a palma da minha mão.
Respirei fundo e entrei naquele local iluminado.
Dei uns passos em frente tentando perceber onde estava. Não tinha qualquer memória de um pretérito recente. Não me recordava da razão pela qual tinha ido parar àquele local. Dirigi-me para a berma da estrada, levantando um pouco o vestido para conseguir caminhar melhor.
Por muito bizarro que pudesse parecer, ali eu sentia-me bem. Sentia-me normal, sem vozes, sem rostos maléficos nem assustadores. Estava sozinha mas estava em paz, independentemente do local onde me encontrava. Baixei o meu olhar e continuei a minha marcha em direcção a lado nenhum. Subitamente vi um clarão seguido de um estrondo. Sorri. Lembrava-me daquele cenário, de um local mas não sabia o que estava a fazer nesse momento. Senti um calafrio que me percorreu a coluna e Logan irrompeu na minha mente.
Inesperadamente ouvi alguém clamar o meu nome.
- Ash! ASH!
Parei e soltei o pedaço de vestido que as minhas mãos seguravam. Tentei perceber quem me chamava.
- ASH! - fez-se silêncio. - ASH!
Reconheci aquela voz. Respirei uma lufada de ar fresco mas pesado e comecei a correr desalmadamente esboçando o meu maior e feliz sorriso.
- Logan? - inquiri bem alto.
Ouvi o meu nome novamente. Continuei a correr, rasgando pelo caminho a parte inferior do vestido para me facilitar a locomoção. Tratava-se de Logan! A minha felicidade era indescritível! Há cerca de dois anos que queria tocar-lhe, beijar a sua boca, sentir o seu calor e falar com ele.
- Logan! - gritava enquanto corria ainda com um sorriso estampado na face.
O forte vendaval não foi capaz de me demover. Eu estava suficientemente forte para correr contra ele só para ir ter com Logan. Os meus cabelos cobriam-me o semblante enquanto corria, aproveitei a parte que tinha rasgado do vestido para prender o cabelo.
- Ash! Onde estás? - bradou ele.
Estaquei e tentei discernir se a sua voz vinha de Norte. Abruptamente vi uma cabeça a elevar-se ao fundo da estrada com o cabelo puxado para trás devido ao vento e a perscrutar com os olhos onde eu me encontrava.
Quando o vi, o meu mundo parou. Não queria acreditar que era ele. O homem que eu amava, o meu melhor amigo, o meu companheiro, o meu mais que tudo. Com tanta emoção deixei-me cair de joelhos no asfalto. Não senti qualquer tipo de dor. As lágrimas caíam-me copiosamente molhando o meu vestido impiedosamente.
Olhei novamente para o fim da estrada e lá vinha ele com um sorriso enorme na face. Levantei-me e recomecei a correr ainda a chorar.
Escassos metros nos separavam até que ele estendeu os seus braços e eu entrelacei-me neles. Ele abraçou-me com força enchendo o meu pescoço de beijos enquanto eu chorava manchando a sua camisola azul-escuro. Afastei-me um pouco dele ainda com os meus olhos banhados em lágrimas e acariciei a sua face branca e o seu cabelo castanho. Olhei-o nos seus olhos dourados e esbugalhados, contornando com a polpa dos meus dedos o traço fino dos seus lábios. Logan beijou-me a mão e esboçou um sorriso.
- Eu senti tanto a tua falta. - disse recomeçando a chorar compulsivamente.
Baixei o olhar.
- Ash... eu esperei dois anos para isto acontecer. - disse-me com a sua voz suave e melodiosa.
Encostei a minha cabeça ao seu peito.
- Eu amo-te, Logan. Senti tanto a tua falta. - fiz uma pausa relembrando-me da minha insanidade. - Eu... não consigo, nem quero, viver sem ti. Foi difícil ultrapassar a tua morte, saber que nunca mais te iria tocar, beijar... acariciar. Na verdade, nem consegui ultrapassar.
Ele beijou-me serenamente a nuca.
- Eu sei. Eu sei de tudo e lamento. Lamento de verdade, sei o quanto sofres com todos os teus devaneios. - disse numa voz trémula. Começou a embalar-me. Olhei-o de soslaio.
- Tu sabes?
Ele fixou os seus olhos nos meus.
- Eu sei tudo. Sei que essas tuas visões só existem na tua cabeça. Tu crias monstros, demónios. É uma forma de construíres uma barreira entre a sociedade e entre ti, Ash. - fez uma pausa. - Eles não existem. Tu só os vês porque... estás doente. Tens de seguir em frente! Eu não pertenço ao teu mundo, não agora. - Largou-me e afastou-se, fungando. - Tu não conseguiste ultrapassar a minha morte porque estás presa a mim. Não consegues libertar-te e deixar de te culpar por algo que foi minha culpa. - A sua voz falhava e as lágrimas começavam a acumular-se nos seus olhos. - A culpa foi minha, Ashley. Minha e só minha. - fez uma pausa retomando todos os passos para me alcançar. - Não te podes culpar por algo que não cometeste. Eu morri. Tu sobreviveste. Era isso o que eu mais desejava! Eu ter-me-ia suicidado se tivesses morrido em minha vez e sendo a culpa minha. - Sorriu ironicamente. - Mas eu morri sendo a culpa minha! Eu quero-te ao meu lado, anseio-te cada vez mais, sinto a tua falta, da tua maneira de ser, de agir e de falar. Sinto falta de tudo o que é mundano. Sinto falta de casa e de nós, Ash. - Baixou o olhar. - Mas eu não tenho hipótese. Tu tens.
Olhei-o e recostei-me nele chorando ainda mais.
- Por favor, não digas tais coisas. - pedi-lhe.
Ele afagou o meu cabelo e puxou o meu rosto na direcção do seu, beijando-me subtilmente. Passado algum tempo, largou-me e sorriu.
- Eu amo-te para toda a eternidade. - disse-me. Eu repeti as suas palavras e ele fez-me rodar sobre o seu braço ficando eu de costas para ele. Beijou-me o pescoço.
- Eu nem acredito que estou a falar contigo, a tocar-te. - fiz uma pausa, maravilhada. - Isto é o Céu? - questionei, ingenuamente.
Um silêncio perturbador fez-se ouvir. O vendaval estagnou, os trovões já não se faziam ouvir e o burburinho do centeio a agitar-se tinha-se silenciado.
- Isto é o teu sonho, Ashley. - disse-me ele, friamente. - Tu não estás morta.
Larguei-o e olhei-o unindo as minhas sobrancelhas não acreditando no que ele me havia dito.
- Isto é o teu sonho. Não é o Céu. - repetiu, esclarecendo-me.
- Es-stás a dizer-me que não vou ficar contigo? - questionei, gaguejando.
Ele baixou o olhar.
- Sim, eu só estou aqui porque ansiava ver-te e falar-te. E tu só estás cá porque estás a sonhar. - informou monocordicamente.
Olhei-o com estupefacção sentindo o meu mundo a abater-se inexoravelmente sobre mim.
- Não. - disse. - Era suposto eu estar morta!
- Ash, por favor, tenta compreender, não é a tua hora. - referiu tentando alcançar-me com as suas mãos.
Lancei-me aos seus braços.
- Não, por favor, não! Suplico-te! - bradei. - Deixa-me ficar contigo! Não quero voltar àquele mundo! Não quero voltar a ver aquelas faces horripilantes a fixar-me! Não quero ouvir vozes e ter sonhos bizarros! Por favor, Logan, não me deixes ir! NÃO!
- Ash, tu estás doente! - referiu novamente encostando o seu rosto na minha nuca. - Não podes ficar cá, não agora. Tudo acontece na sua devida altura e esta não é a mais acertada. - afastou-me e olhou-me nos olhos. - Cada vez que tentas fazer mal a ti própria eu sinto. É como se estivesses a cravar-me um punhal no abdómen. Por favor, peço-te isto, eu sei... - olhou para trás como se alguém o estivesse a chamar. - eu peço-te apenas para deixares de ser como és. Deixa que te ajudem. Esses monstros estão na tua cabeça. Eles não existem, nunca existiram nem existirão. É tudo, tudo na tua cabeça. - fez uma pausa, segurando-me o queixo. - Ashley, independentemente de eu estar aqui e tu lá, eu amar-te-ei incondicionalmente e embora me doa saber que vou ter de te deixar... irá ser o melhor que eu posso fazer por ti.
Dito isto, as lágrimas irromperam-lhe discretamente pelos olhos e puxou-me contra si. Eu ainda estava a assimilar toda a informação que ele me tinha debitado. Após algum tempo e vendo que nada podia fazer para permanecer junto de Logan, abracei-o, rodeando os meus braços na sua cintura. Estivemos assim imenso tempo.
- Está na hora. - referiu, afastando-me de si.
- Logan... - disse choramingando.
- Por favor, não me faças revoltar contra nada nem ninguém. Vai. - disse-me apontando com o seu dedo indicador para Sul.
Baixei o olhar.
- Não podes reencarnar ou algo do género em alguém? - abordei ingenuamente.
Ele sorriu secamente.
- Se há coisa que muita gente está enganada é na reencarnação. Eu sou eu e não posso invadir o corpo de ninguém. Não acharias de certa forma contraditório dizer, se efectivamente a reencarnação fosse realizável, que o ser-humano é único? - questionou retoricamente. - Isso não acontece. - concluiu.
Novamente o som imperioso de um trovão fez-se ouvir. Olhei para trás. Logan segurou-me as mãos e com um semblante onde predominava o desespero e a dor, sussurrou:
- Segue para Sul. Chegarás lá.
Finquei os meus pés ao solo.
- O que acontece se eu não for? - questionei vendo uma pequena luz ao fundo que anunciava que podia ainda morrer e permanecer com ele.
- Eu... posso perder-me. - respondeu-me. - Por favor, vai! Ashley, vai! Corre na direcção do vento, para Sul!
Dei-lhe um último abraço e beijei-o morosamente. Começei a correr o mais que podia olhando constantemente para trás. Ele permanecia precisamente no mesmo local mas com os joelhos no chão. Parei novamente e tentei correr na direcção dele. Porém, não me conseguia voltar totalmente. Parecia existir algo que me impossibilitava de voltar atrás. Subitamente, senti que nem para a frente conseguia correr e algo me começou a apertar o pescoço.
- Logan! - bradei.
Ele levantou-se e olhou para mim. Correu até ao local onde eu me encontrava e começou a pontapear o que me prendia. Eu não conseguia ver o que me prendia mas Logan conseguia ver muito mais que eu. Eu não duvidava que se tratasse de algo sobre-humano, algo que os meus deficiente olhos humanos não conseguiam detectar. Os seus pés moviam-se furiosamente, embatendo contra o que me estava a asfixiar lentamente. O ar começava a ficar cada vez mais escasso. Agradeci mentalmente à entidade que estava a fazer-me morrer. Abruptamente senti a minha garganta solta e os meus pulmões e encheram-se de ar. Caí no asfalto e ouvi vidro a partir-se aquando a sua queda.
Logan ajoelhou-se novamente e com um olhar esgazeado e respiração acelerada, debruçou-se sobre mim vendo se eu respirava. Com a mão trémula toquei-lhe na face.
- Por que não me deixaste ele asfixiar-me? - questionei-o. - Seria fácil.
Ele pegou-me e transportou-me nos seus fortes braços.
- Porque te amo. É essa a resposta, Ash.
Deixei-me transportar e encostei a minha cabeça no seu braço. Ele caminhava para Sul. Lembrei-me do que ele me havia dito "Eu... posso perder-me.".
- Logan, espera, por favor, eu vou sozinha. Podes perder-te. - disse, fazendo-o parar.
Ele sorriu-me docemente e beijou-me a testa.
- A partir do momento em que se luta para salvar a vida de alguém, está-se perdido. - Voltou a sorrir como se nada tivesse passado. - Serei o eterno pecador. Não me arrependo.
Olhei-o duramente. Eu não sabia o que era ficar perdida naquele contexto. Seria nunca mais encontrar a paz? Nunca mais encontrar nada? Não o abordei. Seria contundente sabê-lo.
Pousou-me lentamente no chão e beijou-me uma última vez. Abraçou-me e embalou-me, sussurrando-me palavras harmoniosas ao ouvido.
Comecei a caminhar novamente e vi uma luz a ofuscar. Presumi que aquela fosse a minha saída. Corri para alcançá-la. A um exíguo passo da vida, olhei para trás e Logan acenava-me tentando manter uma cara alegre quando, no fundo, o seu coração esmorecia. Tentava manter os seus olhos límpidos quando lhe apetecia chorar. Eu sabia. Eu conhecia-o como a palma da minha mão.
Respirei fundo e entrei naquele local iluminado.
48 comentários:
Texto intrigante, paralisante, fiquei sem piscar. haha.
Ash por certo adoeceu com o falecimento de Logan e não consegue libertá-lo.
Será que culminará em suicídio para estar com ele, mesmo sabendo dos riscos que ele pode se perder?
Escreves maravilhosamente bem, tens que providenciar um livro para publicar seus escritos. Não limite-se a blogues.
amei! *-* estou a ver que dar uma história super interessante :)
obrigada querida!
vou já ler esta história nova. podes me dizer só de que se trata mais ou menos para ficar actualizada :)?
então pronto, vou ler a parte um e depois a dois :)
gostei. é uma história um pouco estranha, digo-o. mas parece ser interessante, e acho q vai ser uma bela história de amor
obrigada por também seguires o meu blog. (:
Muito bom! Espero por mais :)
Amo a tua forma de escrever :)
eu,adoro o teu! :D
Força com isso! ^.^
Estou neste momento a escrever o 2º capítulo, por isso prepara-te *-*
A sério, que situação enervante e ridícula -.-'
é verdade, gosto mesmo :))
Um beijinhoo*
Isso é bom, isso é bom *-*
Mais um bocadinho e voilá!
Cada vez melhor :o continua por favor (:
*beijinho
acredites ou não por acaso faz o meu estilo. só que nunca escrevo, porque a minha cabeça não vai para isso xD
gosto bastante deste tipo de história, como ficção e isso :)
e trata-me ou por fátima ou por mary só sff :x
tu escreves lindamente!
Então boa sorte com os intermédios (: e acredita que a tua escrita é para além de "normal"!
*beijinho
PS: Já sigo (:
mas acho que a história que estou a fazer para o teu desafio não é bem de romance :o
de nada :)
O segundo capítulo já foi postado :)
Espero que gostes!
Olá! :) Oh de nada, até parece que é novidade eu adorar as tuas histórias :) é da maneira que prolongas a curiosidade de todos ahah, obrigada e igualmente! :) Oh obrigada, ainda bem que gostas :)
Muito, muito obrigado! :)
Eu nunca consigo arranjar nomes 'feios' para chamar aos outros! :P Hm...pois, terás de acompanhar a história para descobrir. Ainda vais ter muitas surpresas.
Nem sabes como a tua opinião é importante, aliás, todas as opiniões são importantes, mas aqueles que dão incentivo para continuar e não um simples 'giro' ou 'que bom'. Ora essa, não tens de pedir desculpa :)
vais ver que sim querida :D
Adorei, amo as tuas historias, escreves de uma forma que deixas qualquer pessoa, sempre a espera do proximo episódio :D
Nem sei que dizer. Escreves tão bem! Já pensas-te em fazer um livro? Saias-te bastante bem, acredito!
To completamente rendida a esta história!
Beijinhos *
que lindo, estou a seguir *-*
Claro, é assim mesmo que deve ser :)
O terceiro capítulo não tarda está aí :P
Kissu <3
não faz mal querida*
obrigada :)
concordo com o Ghost Writer*
ahah :) nao te podes limitar aos blogues. as outras pessoas tem que tomar conhecimento do teu talento :bb
ahah que nice :bb
mas olha q ainda tens ate dia 18 de maio. quase um mes querida
entao boa sorte e bons estudos*
td bem. n tens d q
Obrigada :) beijinho *
Uau, está lindo *.*
Estou a gostar, sem dúvida!
Obrigada querida!
Acho que devias apostar mais no livro :p
Eu ia comprar assim que sai-se xD
Mas não te esqueças de vir postar o resto da história sim? xD
Beijinho *
obrigada :)
não era o que esperavas pois não ? xD
não ha palavras. só sei que sentia arrepios de vez em quando ao ler a historia.
fiquei completamente especada a olhar pro ecrã com cara de concentrada ahah. escreves maravilhosamente bem !
estou ansiosa pela continuação !
não é preciso agradeceres :D leio com muito gosto :b
então espero que tenhas gostado!
Ora essa :]
Apenas dei a minha opinião ^^
obrigada querida :$
Muito obrigada querida *-*
Eu vou ler eu vou ler eu vou ler, eu prometo que vou ler até porque vai ser difícil controlar a curiosidade, mas não hoje.
Beijinho
Não conseguia parar de ler. Conseguiste prender-me, já estou ansiosa pela próxima parte. realmente ansiosa. Não te cnsigo explicar porque razão gostei tanto; mostra tanta dor, sofrimento que a Ash sente e transmites isso tão mas tão bem que por momentos, eu partilhei essa dor, eu por momentos, senti a dor dela. As tuas descrições são miniminalistas e fazem -me criar em filme cada palavra que leio; É por isto que gosto tanto de ler e posteriormente, de ler-te! E aconcelho-te a seguir o conselho de Ghost Writer ;)
kiss, Al*
O tempo, ai o tempo. Traiçoeiro --' e eu que o diga!
Achas que a série enrola? Como?
Ora de nada Hayley *.*
obrigadaaaaa a sério, fico mesmo contente por as pessoas pensarem isso! :) és muito querida <3
ah, percebo. Eu gosto porque retrata de certa maneira o dia-a-dia de um serial killer. Sei lá fascina-me e acho o protagonista girinho mas é tão sexy. Aqueles olhos, god. Acho que interpreta mesmo bem o papel como serial killer.
E agora esta temporada recente, ele está a tentar manter a familia e continuar na mesma com a segunda personalidade. Acho fantastico como ele despromovido de sentimentos consegue fingi-los, por vezes .. porque as vezes, cansa-se.
Sobrenatural é algo que não consigo deixar de ver, tipo mentes, fringe começei a ver e ate gostei e andei , durante uns tempos, sempre a ver .. mas sei lá, não conseguiram prender-me como Sobrenatural me prendeu e além disso Sam e Dean são cá uns pedaços de mau caminho, minha nossa :L
os vencedores estão lá (:
ohhh, muito obrigada querida :)
eu adoro imenso o teu blog.
achei fantastico, devias escrever um livro porque escreves divinamente.
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