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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Como Desaparecer Completamente - Fica (Cap. VII)

A consciência abateu-se sobre mim. Num movimento rápido e brusco afastei-me daquele leito reconfortante, endireitando-me e afastando-me o mais possível. O sofá parecia muito pequeno para ambos. Levantei-me e comecei a caminhar, ainda confusa, até alcançar as chaves do seu carro para ele me levar a casa. Entretanto olhei-o e ele estava tão atónito quanto eu. Os seus olhos, cor de urtigas, oscilavam entre mim e a porta numa confusão tremenda. Bruscamente levantou-se caminhando pelo soalho encerado até mim. Deteve-se a escassos metros de mim, apoiando a sua mão esquerda numa mesa redonda disposta a sudeste do sofá.
- Posso ir embora? - questionei. - Não me estou a sentir bem. - rematei.
- Ash, por favor, não interrompas aquilo que começámos. - Caminhou até mim, agarrando suavemente o meu cotovelo, levando-me para me sentar novamente. - Como te sentes?
Mirei-o, furiosa.
- Achas que me sinto fantástica, pronta para outra, com uma vontade de sair à rua e gritar que estou bem? - sorri ironicamente. - Sabes uma coisa... Podes ser um médico experiente, com as mais irreverentes técnicas, um homem bem sucedido mas não sabes nada da vida. Limitas-te a ouvir, porque é o teu trabalho, apontar, analisar mas na verdade nunca sentiste nem sofreste um terço daquilo que todos disseram. E eu acredito que não sabes o que é sentires-te perdido, sem rumo, uma aberração! - fiz uma pausa, respirando fundo. - Eu posso estar doente mas não és tu que me vais curar. - finalizei com acrimónia.
Stephen colocou-se na defensiva.
- Sabes qual é o teu problema? É não confiares em ninguém porque pensas que todos são teus inimigos quando tu és a tua própria inimiga. - sorriu como se a minha mensagem não o tivesse afectado. - Tu não percebes o porquê de eu insistir em te ajudar, pois não? Pois bem, fica sabendo que eu podia deixar-te morrer, ali, no mar e deixar-te apodrecer lá.
- Fazias-me um grande favor... - balbuciei, cruzando os braços sobre o meu peito.
Impacientemente, disse:
- Por favor, não me interrompas. Eu nunca tinha vivenciado nada como naquele dia. A minha rotina é surfar por volta daquela hora em dias tempestuosos porque a adrenalina circula nas minhas veias com mais fluidez. Estava eu a preparar-me para entrar no mar quando ouço um som de algo a colidir contra a água.
Fingi não ter qualquer interesse mas, no fundo, estava curiosa por saber como ele me tinha encontrado.
- Encaminhei-me na minha prancha até onde julgava ter ouvido aquele som mas não vi nada. Olhei, subitamente, para o lado da falésia do lado Norte e vi algo a boiar nas ondas. Nadei até lá e vi-te, com a cabeça ensanguentada, tremendo e com as roupas esfarrapadas. - fechou os olhos. - E depois levei-te para terra e julguei que tinhas morrido. Medi a tua pulsação, muito rudimentarmente, e não senti nada. Tentei expelir a água dos teus pulmões  mas não respondias a nada! Não tinha ninguém para me ajudar. Estive cerca de quinze minutos na expectativa. E, abruptamente, como se por milagre fosse, depois de todas as tentativas fracassadas de te salvar, começaste a mexer lentamente os dedos. Começaram a aparecer mais pessoas que ajudaram e depois abriste os olhos mas não de uma forma calorosa. Não estavas grata, eu percebi-o e percebi logo essa tentativa frustrada de suicídio. Mas eu não te podia deixar morrer, Ash. Não podia nem tencionava fazê-lo, nem que fosses o meu pior inimigo.
Envergonhada, comecei a mirar todos os retratos dispersos naquela sala. Todos da mesma mulher. Da mesma mulher de cabeleira farta e loira, com um sorriso largo e luminoso, combinando subtilmente com os seus olhos dourados. Franzi o sobrolho mas não o abordei.
- Ash? Ashley! - clamou Stephen vendo-me tão absorta.
- Sim, desculpa. Desculpa por não ter sido calorosa na primeira vez que me viste mas eu não te ficarei grata, Stephen.
Ele deu-se por derrotado.
- Mais uma coisa... Tenho uma proposta a fazer-te... - iniciou. - Foste basicamente despojada de tua casa. Um tal de Harold contactou comigo e pediu para o compreenderes mas já não pagavas a renda há quase meio ano...
- Raios! - proclamei, vociferando.
- A proposta que eu te tenho a fazer é ficares aqui. Há um quarto lá em cima vazio... Aliás, já lá estão as tuas roupas. - disse-me com um sorriso estampado na face como se fosse uma criança.
Confesso que me perdi. Foi um sorriso que me intimidou e fez-me querer aceitar aquele convite sem porquês. Desviei o meu olhar dele, dizendo a mim própria que estava doida.
- Não. - disse. - Não posso aceitar. Agradeço mas não posso.
Ele levantou-se com nervosismo patente no seu semblante.
- Vais viver onde? Debaixo da ponte?
- E daí? Qualquer local é digno para se viver! Aliás, eu não quero depender de ti. Salvaste-me a vida mas foi só isso e, embora não te esteja grata, aprecio a tua intenção. Obrigada, a sério, mas eu quero ir embora.
Caminhei em direcção à porta, questionando-me de que o que estava a fazer era certo ou errado.
- Ash! Por favor, fica.
Olhei para trás.
- Stephen... eu não te conheço. - disse.
- É uma boa oportunidade para me conheceres. - fez um pausa, sorrindo novamente. - Fica.
Recuei e tomei uma decisão.
- Mostras-me onde fico? - questionei soltando um sorriso que não queria.
Subimos as escadas que acessavam ao quarto. Ficava do lado esquerdo das escadas. Quando abri a porta branca uma parede clara elevou-se, em contraste com a minha antiga que se encontrava encardida. Era um quarto suficientemente grande para mim. Todo o mobiliário era branco imaculado, contrastando com o edredão negro com uma manta felpuda vermelha ao pés da calma. A decoração era simples mas juvenil. Há uns anos atrás iria querer ter assim um quarto.
Abri as portas do roupeiro e as minhas roupas estavam lá todas dispostas por cores, das quentes para as frias. Outras tinham sido acrescentadas e predominava um suave cheiro a alfazema nos armários. Havia uma pequena secretária e um computador portátil, bem como livros nas prateleiras da estante. Havia também um toucador com os mais variados cremes, perfumes e vernizes que eu era capaz de me perder no meio de tantos.
- Gostas? - questionou.
- Sim, obrigada. - sorri. - Por que fazes isto por mim? - abordei-o, olhando-o nos olhos.
- Não sei. Mas sei que é a coisa certa.
E ficámos assim durante algum tempo.
- Stephen... posso descansar? Acho que é o que devo fazer.
Ele afastou-se.
- Ia sugerir mesmo isso. - E saiu do quarto a sete pés.
Fechei a porta mas conseguia ouvir os seus passos apressados a descer a escadaria. Sorri.
Fechei o estore, vesti o pijama e enfiei-me debaixo dos lençóis que cheiravam igualmente a alfazema. Mal cerrei as pálpebras, o cansaço invadiu-me, teletransportando-me para outra dimensão.
O cheiro a mar anunciava a sua proximidade. Eu sentia um oscilar constante e o som das aves marinhas a rasgarem o céu. Levantei-me e vislumbrei que me encontrava num barco. Corri alegremente, explorando como uma criança, gritando que era livre! O barco tinha um cheiro característico: uma promíscua mistura de alecrim com vinagre de cidra. Incomodativo ao olfacto. Mas nem isso deteve a minha felicidade. 
Desloquei-me até à proa e observei o barco. Parecia um modelo futurista. Traços simples, cores quentes, um design diferente de todos aqueles que eu alguma vez tinha visto. 
Ouvi passos e olhei para trás. 
- Estás a gostar da viagem?
Não via ninguém. Os passos agora vinham da direcção oposta. Um vulto apareceu vestido de negro mas com uma voz jovial.
- Sim, estou. Quem és? - perguntei, franzindo o sobrolho.
O Sol embateu na cara do desconhecido. Parecia uma miragem. Alguém saído de uma capa de revista da Men´s Health. Sorri.
- Ninguém. - respondeu, lançando-me um largo sorriso.
- Ninguém? Tenho a certeza que és alguém!
Aproximei-me até não restarem mais do que alguns passos entre nós. Olhei para cima, uma vez que era um homem muito alto, e aquele olhar fazia-me lembrar alguém que eu conhecia mas não me recordava.
Ouvi algo vindo do mar. Os nossos rostos voltaram-se na direcção do som. 
- O que é isto? - questionei ouvindo um constante ruído de algo a ser atirado ao mar.
Ele encolheu os ombros. Subimos até à proa. Algo se elevou no ar do lado Sul, pronto para nos derrubar. Não havia tempo para fugir.Uns braços colidiram contra os nossos corpos atirando-nos impiedosamente para o mar.
Aquele homem bradava na tentativa de não se afogar e tentava dar-me a sua mão como se ele fosse a única saída. Num segundo o homem desapareceu.
Levantei-me bruscamente, arregalando os meus olhos ainda com aquele sonho na minha cabeça. Procurei o interruptor para acender a luz e mal a acendi, soltei um grito quando vi Stephen sentado na cadeira giratória, observando-me.
- O que estás a fazer aqui? - questionei enquanto ajeitava o meu cabelo.
- Ouvi-te gritar e vim ver se precisavas de mim. - respondeu, apoiando a sua face na palma da sua mão. - Chamaste por mim.
Ruborizei.
- Isso é porque estava a ter um pesadelo - admiti. -  mas não sonhei contigo.
Olhei em torno de mim e vi que os lençóis estavam num desalinho total e o pijama colado ao meu corpo.
Stephen estendeu-me um copo de água. Bebi-o de imediato. Ele voltou a sentar-se na cadeira.
- Com o que sonhaste?
- Eu afoguei-me mas... havia alguém.
- Alguém que fez parte da tua vida?
- Não sei. Não reconheci. - respondi.
- Chamaste por dois nomes: o meu e Logan. Quem é o Logan?
O meu mundo parou. A minha respiração estagnou e fiquei sem pinta de sangue por todo o corpo. Aquele nome fazia ainda hoje tremer e lembrar todo o sofrimento e toda a minha vida após a sua morte. As lágrimas não se estavam a conter, mais uma vez. Envolvi-me numa posição fetal. Stephen olhava-me e aproximou-se de mim, sentando-se na berma da cama.
- Não queres falar sobre isso, pois não?
- Não. - respondi puxando os lençóis até ao pescoço.
Ele assentiu com a cabeça.
- Está bem. Boa noite, então. Se precisares chama-me. -disse, abandonando o quarto não se importando muito por ter sido acordado por mim.
- Espera!- disse quando ele estava prestes a rodar a maçaneta. - Podes ficar só mais um bocado?
Ele sorriu e voltou para trás, sentando-se na poltrona.
- Posso. - confirmou, apagando a luz.





18 comentários:

Anónimo disse...

quero mais, quero maiiiis!
agora que estava mesmo a entrar na onda, pronto T-T

karina disse...

também quero mais :o
está perfeito, perfeito mesmo.

Cassandra Lovelace disse...

Sofia, eu 'odeio-te' ... estou a ler, a ser embalada pelas tuas palavras e a criar o meu filme e ZÀS acaba-se -.-

Quero maiiiis *.*

tânialopes! disse...

adorooooooooooooooo & quero mais :)

Anónimo disse...

Oh que lindo!
Adorei!

Anónimo disse...

Ou então pedia-lhe explicações 8D Explicações, tás a perceber? xD

Joana Silva disse...

Confesso, que já não vinha aqui a algum tempinho, mas isto anda um bocadinho complicado, freqências, trabalhos, chegar tarde a casa da faculdade, deixa-me sem quase tempo nenhum. Li a história ate aqui desde o momento em que a deixei de ler, e cada vez mais adoro esta tua escrita, e a tua maneira de expressar sentimentos, e entre outros. Gosto imenso deste teu blog, e continuo a ter prazer e orgulho em cá vir, sempre que posso :D Beijinhos

Vica disse...

olha querida, desculpa estar a demorar tanto tempo para publicar o 3º capitulo :S perdi a paciência e nem tenho tempo. mas vou fazer de tudo para publicar o mais rapidamente possível

Cassandra Lovelace disse...

Fraquinho só se for no aspecto de a acção nao avançar muito mas para mim avançou, cnsigo ver que Ash está a 'entregar-se' ao Jason (se nao me engano no nome -.-). Está a confiar e é optimo.

Em relação ao estudo, hoje assim que agarrei nos livros foi logo tudo, qase . Vou repetir o de Biologia pois é especifica para o meu curso e tenho o de portugues ainda antes e eu qeria fazer boa figura e nao tirar nota só para fazer a disciplina. Agora, matemática, que bicho de sete cabeças -.-

Kiss, Al*

Gonçalo disse...

opaaa ainda bem que gostastee :)

tânialopes! disse...

ficarei à espera querida.
oh, ela nem merece que pense nela |:
beijinho*

tânialopes! disse...

vem brevemente querida $:
beijinho, estou a adorar a tua :)

karina disse...

olá! partilhamos da mesma opinião no fim tudo faz parte da vida.
não achei nada este fraquinho, está muito bom :) beijinhos.

. Diana Silva . disse...

adorei :3 !
não há palavras *-*

Catarina disse...

está espetacular !

Cassandra Lovelace disse...

Pronto, enganei-me mesmo no nome e dei-te ideias !? Optimo ! Há enganos que veem por bem xD

Sim, tambem estou so a ler pois na altura em fiz o exame, fiz imensos resumos e estudei mesmo aserio por isso a materia nao desapareceu , só foi armazenada noutro lugar recondito da minha mente e tenho que a encontrar -.-

kiss, Al*

Cassandra Lovelace disse...

Eish, nervosismo é que nao. Isso nao. Se nao começarem a stressar ao pé de mim, eu nao stresso, é na boa. Apesar de o exame ser só a especifica que eu preciso para o meu curso -.-

Cassandra Lovelace disse...

Eu vou numa paz que até me assusta a mim mesma mas dps quando começo a ler as perguntas , só penso "porra, podia ter estudado mais" e ou "tche, eu fiz esta e agr nao me lembro" . nao stresso mas tenho brancas enormes --'

Eu espero então *.*