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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Como Desaparecer Completamente - Desconhecido (Cap. IX)

Stephen olhou-me com uma mensagem estampada no seu semblante "Eu não sei como te salvar."
Não havia forma, nada nem ninguém que me fizesse melhorar ou tornar-me num indivíduo são que pudesse integrar-se e, quem sabe, ser a pessoa que todos julgavam que iria ser e que até eu julgava vir a ser. Porém, com todas as situações agonizantes e todos os calvários a que eu tinha sido submetida, a minha vontade, disposição e inteligência tinha sido sugada como se eu fosse uma presa para um vampiro. 
Os passos apressados, ritmados e aflitos precipitavam-se para o elevador. A dor dilacerante que parecia arrancar cada neurónio tornara-se mais dolorosa que nunca. Apenas queria morrer. Que o elevador caísse, explodisse! Algo! Que acontecesse algo e bem depressa. A respiração ofegante, o batimento cardíaco acelerado, a sua pele suada misturado com aquele perfume infernal recordava em tudo Logan. Tentei contornar aquele odor fresco, suave e delirante mas cada vez mais se tornava impossível. Subitamente, senti o ar puro invadir-me os pulmões de forma violenta. A claridade fazia-me arder os olhos. Enterrei a minha cara no peito de Stephen. Vozes tumultuosas promiscuamente misturadas com vozes naturais, humanas fizeram-me aperceber que tinha chegado ao cerne da confusão onde reinavam as pessoas indiscretas. Reconheci a voz do Padre.
- Filho, tem de ter em atenção o que ela faz! Poderia ter-se dado um acidente. Não estará ela possuída?
Senti os músculos dos seus abdominais dilatarem-se para soltar um sorriso mudo. Com uma voz exasperada, impaciente e com uma certa insolência disse:
- Por favor, Prior, por favor. Não me venha com essas tretas de cristianização, exorcismo ou o que quer que seja. Deixe-me eu tratar dela. - fez uma pausa, agarrando-me melhor. - Eu sei do que ela necessita.
A voz do Padre parecia indignada.
- Acho impossível depois de tudo ainda me falares assim. - ditou, caminhando a passos pesados e bem demarcados.
Os braços de Stephen baixaram. Senti o meu corpo embater contra os estofos do seu Volkswagen. Encostei a minha cabeça dorida e senti o carro arrancar a uma grande velocidade. A música de fundo que se fazia ouvir quando entrei foi silenciada bruscamente. A viagem tão curta parecia ter demorado anos. Novamente fui transportada, subindo degraus. Ouvi a chave a ser introduzida na fechadura e um pequeno estalinho fez-se ouvir quando a porta abriu. Novamente escadas e os passos apressados de Stephen dirigiram-se para o meu quarto. Pousou-me na cama e fechou os estores. Descalçou-me os pés e abriu as gavetas à procura de algo. Eu queria conseguir falar, dizer-lhe para parar de fazer o impossível e se achar capaz de o fazer. Eu queria que ele parasse, uma vez que simultaneamente ele era muito prestável mas fazia-me lembrar quem eu não queria.
- Eu sei que prometi nada de medicamentos, mas menti deliberadamente. - fez uma pausa ainda ofegante. - Tem de ser.
Mal o proferiu, senti uma agulha perfurar-me o pulso de modo ao líquido encontrar-se com as minhas veias e ser transportado, pela corrente sanguínea, até ao local onde lhe competia. O líquido ardia-me a passar pelas veias assemelhando-se a labaredas consumindo-me lenta e integralmente mas não era tão doloroso nem tão pesaroso como a dor de cabeça e o peso nos olhos.
- Raios! - bradou subitamente Stephen quando algo embateu no chão. Não consegui perceber do que se tratava, para além de ter sido algo vítreo.
Saiu do quarto apressadamente e voltou em segundos, pousando a sua mão na minha testa.
- Como isto é possível? - comentou para si, num tom de voz quase imperceptível.
Pousou na minha testa um pedaço de gelo que ia percorrendo levemente a minha testa, parecendo actuar como um atenuante. Pegou na minha mão.
- Ash? Consegues ouvir-me?
Apertei a sua mão. Óbvio que conseguia... não estava morta. Só não conseguia executar aquilo que queria.
- Quando eu disse que te menti... menti mesmo. Eu vou injectar um medicamento que te vai fazer adormecer e fazer com que amanhã acordes com uma disposição diferente. Perdoa-me, está bem?
Apertei a mão com toda a força. Seria óptimo se ele se calasse por um minuto. Senti ele a levantar-se, deixando a minha mão novamente sozinha. Pegou em algo posicionado em cima da mesa de cabeceira, provavelmente tratava-se do tal medicamento injectável. Abruptamente, começei a sentir-me leve. Tão leve que levitar não seria um problema. Depois imperou o sono abrupto à qual eu me encontrava receptiva. Um sono profundo não seria um problema para mim. Seria uma saída.
Eu sabia que estava a ser cobarde. Shannon sempre mo tinha dito descaradamente e eu tinha consciência disso. Se não o fosse, teria suportado a morte do meu irmão, de Logan, a separação tempestuosa dos laços familiares e todas as desgraças que sobre mim se tinham abatido num curto espaço de tempo. Se não o fosse, a esta hora, teria alguém ao meu lado, alguém que ocupasse o mesmo legado que Logan mas eu não era assim... nem nunca seria.
Os meus últimos pensamentos antes do sono foram a minha incorrigível cobardia.
Uma voz grave e uma mão tocavam incessavelmente no meu ombro. Depois segui-se uma luz que me queria obrigar a abrir os olhos. Respirei uma lufada longa de ar fresco e fiz um trejeito. Aquela luz incidia sobre os meus olhos e já me começava a inquietar quando misturada com todo aquele desassossego. Abri os olhos, ainda com a visão em fase de adaptação e vi, obviamente, que se tratava de Stephen.
- Por favor! Tira-me essa maldita luz dos olhos! Já me irrita! - vociferei, afastando o seu braço da minha face.
Stephen sorriu e cruzou os seus braços.
- Ia questionar-te se estavas bem mas atendendo à tua receptividade já vi que estás aceitavelmente bem.
Sorri desajeitadamente. Não me lembrava por que razão nem como tinha ido parar à cama.
- Estava a ver que nunca mais acordavas! - disse, sentando-se na cadeira giratória. - É impressionante como consegues sempre alterar tudo aquilo que era suposto acontecer.
Olhei para o relógio e vi que marcava oito e doze da manhã. Olhei-o de soslaio.
- Hum... importas-te de me explicar o que aconteceu? Não me lembro de como vim aqui parar... Passou-se alguma coisa? - inquiri, franzindo o sobrolho
Stephen olhou-me muito admirado. Levantou-se, cruzando os seus braços e esforçando-se para perceber o que estava eu a perguntar exactamente.
- Não te recordas de nada? - questionou, franzindo o sobrolho e caminhando lentamente desenhando círculos invisíveis.
- Não. - confessei. - Para além de ter estado a chorar... não me lembro.
Ele sentou-se na cama e suspirou.
- Bem, tentaste...
Não o deixei terminar. Já tinha percebido onde ele queria chegar. De facto, certas imagens desfragmentadas, aparentemente sem sentido nenhum apareceram na minha mente. Olhei pela janela e vi o grande edifício que se elevava a poucos quarteirões. Relembrei cada passo que dei, cada pensamento que pensei. Cada coisa que pensei fazer. Retraí-me e corei.
- Desculpa, Stephen. Não te queria causar transtorno. - Sentei-me também. - Desculpa... ter entrado no teu quarto sem autorização. Nunca mais lá entro. - disse-lhe, sorrindo levemente.
Ele desviou o olhar e pegou numa almofada. Apetecia-me perguntar-lhe por que razão ele tinha tido aquele acesso de ira mas resolvi permanecer calada.
- Veste-te porque precisas de te alimentar. Estás há cerca de três dias apenas alimentada a soro.
Saiu do meu quarto, largando a almofada. Apressei-me a vestir e a deixar tudo minimamente organizado. Desci as escadas com dificuldade. Sentia-me exausta. O cheiro a torradas acabadas de fazer fazia-se sentir por toda a habitação. Encaminhei-me até lá dando de caras com Stephen comendo um pedaço de torrada sem interesse, apoiando a sua cabeça na palma da sua mão direita. A televisão estava ligada num volume suficientemente audível para deixar alguém quase no limiar da agonia. Olhei Stephen com atenção. Os seus olhos estavam vazios, da sua face era impossível reter qualquer informação. Chamei-o mas ele estava tão alheio que nem me deve ter prestado atenção. Pousei a minha mão no seu ombro. Stephen acordou daquele estado bizarro e estremeceu.
- Estavas aí há muito tempo? - inquiriu, degustando o pedaço de torrada.
- Há tempo suficiente para perceber que devias estar num mundo completamente diferente do meu, por exemplo. - constatei, sentando-me e colocando um bocado de leite num copo.
- Esta televisão está-me a irritar! Por que a colocaste num volume tão alto?
- Quando cheguei já assim estava. - disse-lhe.
Stephen premiu o botão que a silenciava e continuou a sua refeição tão silenciosamente que eu poderia nem sequer dar conta da sua presença. Mas ele inquietava-me com todo aquele silêncio e aquele rosto imperscrutável que me causava um sentimento de culpa atroz.
Pela primeira vez em anos dei conta que me preocupava com alguém. Aquele rosto sofrido, quase sem energia e insondável dava-me um quase insuportável arbítrio de o abraçar como teria feito a qualquer um dos meus irmãos há uns anos atrás, mas ele era diferente. Da minha parte até deveria ser impensável.
Stephen continuava a mastigar morosamente a sua torrada até que o interrompi:
- Passa-se alguma coisa?
Ele afastou a mão e vi com mais clareza o seu rosto: exprimia cansaço. Os seus olhos estavam fundos, circundando pequenas nódoas negras. A sua barba estava comprida, bem maior que o normal e o seu cabelo completamente desgrenhado.
- Nada. - respondeu monocordicamente.
- Tens andado a dormir? - perguntei.
Bebeu um trago de café.
- Mais ou menos. - respondeu.
- Eu não acredito. - ditei. - E nem quero acreditar na razão pela qual não tens dormido.
Ele endireitou-se na sua cadeira e eu saí disparada da cozinha, verificando as minhas suspeitas. Lembrei-me da roupa que ele envergava naquele dia: umas bermudas cor camel, um pólo negro, um casaco ligeiramente mais escuro que as bermudas e uns ténis All Star negros. O que correspondia precisamente à roupa que ele envergava. Espreitando por entre a porta do seu quarto dei com tudo exactamente na mesma posição: a camisa amarrotava encontrava-se na cadeira, a caneca do café na mesa de cabeceira e um livro pousado em cima da cama.
Conclusão: ele não tinha pregado olho.
Dirigi-me novamente para a cozinha e Stephen estava no mesmo sítio prestes a adormecer.
- Stephen... eu sei que não pregaste olho por minha culpa. Agora faz-me um favor... vai dormir, está bem? Não te preocupes com nada. Deixa-me aquilo que queres que eu faça que eu prometo fazê-lo.
Ele olhou-me ensonado.
- Eu não confio em ti. - bocejou.
- Dás-me um voto de confiança?
- Não. - respondeu convicto.
- Por favor?
Ele levantou-se dirigindo-se a uma gaveta onde dispôs quatro frascos diferentes em cima da bancada.
- Este tomas agora, e a cada quatro horas tomas os restantes, percebido?
- Percebido.
- Ah! E, por favor, só hoje, peço-te só hoje, não faças nada. Se começares a ver o que costumas ver, respira e, por favor, chama-me.
- Está bem.
Ele subiu as escadas morosamente apoiando-se no corrimão de madeira e eu encaminhei-me para a cozinha onde predominava uma confusão dos diabos. Os armários estavam todos desorganizados, tudo estava fora do sítio e decidi dar um toque mais organizado à sua cozinha. Liguei a televisão onde estava a dar Tom & Jerry que eram os meus desenhos animados preferidos apesar de os vinte e cinco anos se avizinharem. Apesar de me causarem tristeza e fazerem-me recordar a minha infância com os meus irmãos, principalmente com Shannon, para sempre seriam os que mais me animavam.
Ao fim de algum tempo já tudo estava limpo e vi que era melhor começar a fazer o almoço. Há já algum tempo que não cozinhava mas Logan costumava gostar daquilo que eu fazia, embora, por vezes, as minhas refeições não fossem comestíveis.
Abri os armários à procura de algo que pudesse cozinhar. Encontrei um pacote de esparguete e algumas latas de atum. Teria de me desenrascar com aquilo.
Já tinham passado duas horas desde que Stephen tinha ido dormir. Resolvi ir ver se ele estava bem. Subi as escadas e detive-me à porta do seu quarto. Abri-a muito silenciosamente e vi que ele não estava lá. Espreitei para o sofá mas estava deserto. Era impossível estar no meu quarto mas nada como conferir. Abri a porta mais ruidosamente e vi-o estirado na minha cama, dormindo que nem uma criança. Estava deitado de barriga para o ar e eu conseguia ver o seu peito subir e descer. A sua respiração denotava cansaço. Depois voltou-se para o lado esquerdo, fazendo-me recuar. A sua face estava mesmo na minha direcção. As suas feições tão masculinas mas tão suaves, os seus lábios arqueavam-se quase exibindo um sorriso, o seu cabelo maior ficava-lhe muito melhor que o seu cabelo curto. Senti um arrepio e uma absurda vontade de chegar mais perto. Os meus olhos continuavam fixos nele. Culpei-me, mas não conseguia deixar o quarto. Abruptamente, os seus olhos esbugalham-se e fixam-me. Fechou-os novamente e abriu-os, levantando-se depois muito rapidamente.
- Desculpa. Eu não queria voltar para ali e pensei que não te importasses... - disse enquanto calçava os seus ténis.
- Não te-em importância. - disse-lhe. - Dormiste bem?
Ele espreguiçou-se e sorriu-me.
- Soube-me pela vida!
Sorri. Percebi que era a altura ideal para esclarecer as minhas dúvidas. Antes que ele abandonasse o quarto, comecei:
- Stephen... eu vivo contigo e não sei nada sobre ti. - interpus-me entre ele e a porta. - É estranho viver com alguém da qual nada sei.
Ele sorriu.
- És capaz de ter razão. Se quiseres... podemos falar. Só deves saber o meu nome e a minha profissão. - gracejou.
- Precisamente. És um perfeito desconhecido. Aposto que já sabes grande coisa sobre mim e eu de ti... absolutamente nada.
- A verdade é que sei todos os teus dados pessoais. Não sei os pormenores, como aquilo do teu irmão, não sei quem é o Logan mas imagino nem sei metade de todas as personagens da tua imensa história. Mas quero descobrir.
Sorriu levemente. Dirigimo-nos para o sofá, no piso inferior.
- Eu não tenho jeito para apresentações. Facilitar-me-ias a tarefa se me fizesses perguntas objectivas. - disse, com constrangimento.
- Está bem. - concordei. - Sei que te chamas Stephen Smith.
- Stephen Octavio Smith. - completou. - Mas abomino Octavio, portanto para ti sou Steph ou Stephen.
Sorri. Octavio era realmente muito mau.
- Quanto à minha idade... gostaria de ter uns vinte mas, infelizmente... - sorriu. - já passaram nove anos, quase dez e nada posso fazer para voltar atrás. Nasci em Ohio, mudei-me para Nova Iorque com quatro anos, depois para Texas com quinze, vivi na Flórida durante seis anos e depois mudei-me para aqui onde tenciono morrer. - disse sem precisar que o questionasse. - A minha família desfragmentou-se há uns anos. A minha mãe separou-se do meu pai e eu não tinha uma boa relação com eles e, por isso, mudei-me para aqui. Não tenho irmãos, sobrinhos, filhos. Nada.
Senti-me até melhor por ele ter dito "não tenho irmãos, sobrinhos, filhos. Nada."
- Mais alguma coisa? - questionou.
- Não. - respondi. - Quero dizer... - um laivo de curiosidade sobre a sua história com Annie enchia-me. - não sei se devo. Acho melhor pararmos por aqui. - acabei por dizer, levantando-me.
Stephen agarrou-me no pulso, puxando-me para trás.
- O que quer que seja, diz-me.
Comecei a balbuciar e acabei por inventar algo...
- Hum... é melhor irmos almoçar, está bem?
Ele percebeu, certamente, que eu estava a fugir ao assunto mas mesmo assim seguiu-me até à cozinha num silêncio quase fúnebre.
Apenas o som da televisão se fazia ouvir enquanto almoçávamos. Nem sequer teceu um comentário acerca do almoço, mas repetiu a porção, pelo que deduzi que ele tinha gostado e fiquei satisfeita. Não que fosse uma óptima cozinheira mas até estava tragável.
- Vou só tomar um duche rápido e já volto. Vamos sair. - anunciou, colocando os pratos na máquina.
- Sair? Onde? - questionei.
- Eu sei onde vamos. Depois vês.
Ainda perplexa com a sua proposta de saída comecei a arrumar a cozinha embalada pela música do anúncio televisivo. Abruptamente ouvi passos bem marcados a caminharem pela tijoleira clara. Continuei a limpar esforçando-me por esquecer. Aumentei o volume da televisão e, subitamente, estes pararam. Novamente fizeram-se ouvir. Coloquei a hipótese de que poderia ser Stephen mas era muito cedo para ele descer.
Pé ante pé com uma faca na mão caminhei à procura do que seria. Provavelmente seria mais uma das minhas alucinações. Parei quando cheguei ao centro da sala de estar. Os passos vinham do piso superior. Sempre atenta ao que me circundava subi as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível. Algo me dizia que estava alguém em casa para além de Stephen e de mim. Detive-me no cimo das escadas, esperando ouvir os passos. Vinham na direcção do quarto de Stephen. O meu coração palpitava de nervosismo e nas minhas veias corria adrenalina que dava até para vender. Encostei as minhas costas à parede do lado esquerdo que ladeava a porta do seu quarto. Olhei para o relógio e vi que apenas tinham passado dez minutos desde que Stephen se tinha ido preparar. Portanto, se alguém abrisse a porta, com certeza não seria ele. Novamente ouvi os passos e a água a correr continuamente. Os passos precipitavam-se para a porta mas a água continuava a correr. Teriam feito algo a Stephen? A maçaneta girou velozmente e, simultaneamente, levantei os meus braços de modo a poder cravar a faca em alguém, caso necessário. Alguém saiu do quarto de Stephen e eu interpus-me à sua passagem nem sequer percebendo de quem se tratava. Cerrei os meus olhos e baixei violentamente os meus braços nada atingindo.
- Ei! - bradou alguém. - Estás doida?
Reconheci a voz. Abri os olhos e vi Stephen deitado no chão, ofegante, olhando-me promiscuamente com um sentimento de fúria e confusão estampado na sua face. Senti-me ruborizar.
- Des-esculpa! Eu pensei... eu ouvi passos e pensei que fosse alguém! - disse enquanto me ajoelhei ao seu lado. - A sério, eu não te queria matar! Nada disso! Nada mesmo!
Ele levantou-se e esticou as suas mãos para me ajudar a levantar.
- Eu vou fingir que acredito nisso. - fez uma pausa. - Por amor de Deus! Nunca mais na tua vida faças uma coisa destas! Que raio de mania de usarem objectos contundentes para defesa pessoal... Era eu a caminhar... enfim...
Sorri mas sentia-me envergonhada. Caminhei cabisbaixa até à cozinha. Stephen procurou as suas chaves.
- Vamos? - questionou enquanto fazia girar sobre o seu dedo indicador o porta-chaves. - Só acho melhor ires buscar um casaco. - comentou, olhando-me.
Subi as escadas e fui buscar um casaco que tinha deixado em cima da cama, voltando em escassos segundos para o seu lado.
Mal saíamos para o exterior, o vento fustigante de Norte atingiu-nos impiedosamente. Iria chover, quase de certeza.
Stephen pressionou o comando e abriu as portas do carro. Apressei-me a entrar num silêncio tumultuoso e alguns segundos depois, ele entrou no carro alegando que estava frio para ser Verão. Poderia começar uma conversa sobre alterações climáticas, impactos e dezenas de outras coisas que eu tinha aprendido porque, provavelmente, ele não sabia partes do meu historial. Resolvi reduzir-me à minha insignificância.
A polpa dos seus dedos fizeram rodar o botão do volume do leitor de CD´s, aumentando o volume da música.
- Uma das minhas preferidas. - comentou ele exibindo um sorriso, começando a cantá-la.
Não pude esconder uma gargalhada porque, irrevogavelmente tinha uma voz esganiçada, pior que a minha.
- Por favor, pára com isso! És horrível! - constatei, pressionando as minhas mãos contra os meus ouvidos. Por fim acabou por consciencializar-se que os seus dotes vocais eram inexistentes.
Olhei para o meu lado esquerdo e reconheci a paisagem e o meu sorriso desapareceu por completo. Aquela era a paisagem assustadoramente bela que para todo o sempre me iria causar arrepios e me lembrar de coisas contundentes. Seria a paisagem que eu nunca mais queria vislumbrar mas Stephen acertou se me queria magoar. Aliás, ele sempre teve uma pontaria inexplicável para atingir os meus pontos fracos, pensando que me estava a ajudar mas estava a fazer com que vivesse todas as memórias que não queria recordar.
Olhei-o em pânico, com os meus olhos lacrimejando. Ele desviou o olhar.
Ele tinha feito aquilo de propósito, disso eu tinha a certeza.
- Por quê? - balbuciei.
Ele estendeu a sua mão. Rapidamente retirei o cinto-de-segurança, abri a porta e comecei a caminhar sem rumo definido.

P.s Voltei! O design não está nada de especial mas eu até gosto. Desculpe o ultimato!

15 comentários:

Anónimo disse...

Eu cada vez gosto mais desta história!
Quero a continuação!

Laísa Couto disse...

Sua narrativa tem fluxo, e as personagem permanecem vivas e misteriosas em nossas memórias, uma boa artimanha para conquistar o leitor...Não sabemos quem é Stephen muito menos conhecemos o mistério de Ash, então continuamos aqui esperando a grande revelação...

Cassandra Lovelace disse...

Não, não recebi. Manda então para o facebook

Cassandra Lovelace disse...

oh god, amei amei amei este capitulo.
Nao percebo o Steph. Nao se dá a conhecer além daqelas coisas obvias e que toda a pessoa possui, donde é e afins. e como já foi dito num comentário, tu mantens o mistério á volta das personagens!! e eu adoro isso *.*

Cassandra Lovelace disse...

Então apenas mudei em relação a espaços que falaste e apenas acrescentei. Eu dise que nao ia fazer muitas alterações.

Também gostei do resultado ;)

Helena disse...

Gostei muito deste capítulo (:

Anónimo disse...

De todos os blogs a que passo, o teu é o único que me consegue prender por infinitos minutos. Acho que te vou processar por isso ahahah

Sem mais disse...

Perpetuo! Adorei...

Anónimo disse...

Sim claro, concordo.
O que eu queria dizer é que esta tua história...não sei porquê, mas estou a gostar mesmo dela, às vezes fico imenso tempo sem cá vir, ma quando venho, ando para trás, volto ao ponto onde fiquei e começo a ler tudo a partir daí e sou capaz de ficar ali, presa, imenso tempo, porque gosto de verdade e tenho vontade de ler, sejam quantas páginas for.
ahahaha, mas é verdade, já viste? uma pessoa vem cá, está a contar só ficar 15min e fica prai 3x 15 min ahahah

Anónimo disse...

mudei-me para aqui http://365pensamentos.blogspot.com/ sigam se quiserem :)

- disse...

Tenho dois selos para ti no meu blog :)

łnn Gray ۞ disse...

Ahah, pois sou :D
Mas assim até fico feliz, segues não pela pessoa mas sim pelo conteúdo :)

łnn Gray ۞ disse...

Manda, manda *.*
Ainda bem que estamos de acordo, assim é que eles são Homens <3
Estás? Ai que bom!!! :D

łnn Gray ۞ disse...

Tens noção que vais ter troco ahah *

łnn Gray ۞ disse...

ahah, vamos ver disso então :P