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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Setembro - Lendas (Cap. IV)

A luz solar embatia impiedosamente nos meus olhos. Mirei o céu límpido e azul questionando-me onde estava. Senti as minhas costas molhadas e gélidas, pelo que deduzi estar próxima de um charco ou algo parecido. Tacteei o que me suportava e constatei que não passava do habitual manto de neve. Franzi o sobrolho e levantei o meu tronco velozmente, vislumbrando e concluindo que permanecia no cume da montanha. Franzi ainda mais o sobrolho e tentei fazer uma retrospectiva na esperança de me lembrar da razão pela qual estava naquele local em plena luz do dia. Após alguns minutos recordei-me de ter sido raptada, do som imperativo de uma carroça e uma voz dócil mas forte. Com cepticismo, ainda não convencida que havia sido um sonho, encaminhei-me para casa. Angie e a minha mãe deveriam estar preocupadas. 
Mal fiz os nós dos meus dedos chocarem na porta, Angie abriu-me a porta abraçando-me fortemente.
- Onde andaste? Pensei que te tinha acontecido alguma coisa, Benedith! 
Numa voz débil e vacilante, a minha mãe aproximou-me e afagou-me o rosto.
- Tem cuidado para a próxima, Ben. Eu sei que não podes nem consegues controlar por muito que essa seja a tua verdadeira intenção. - fez uma pausa e os seus olhos claros brilhavam como que se a qualquer momento as lágrimas fossem irromper. - Tu também podes cair nas mãos erradas. - Pressionou as suas têmporas. - Eu sei que vais cair numa armadilha mas, contrariamente a todas as minhas expectativas, eu não te vou puder ajudar. - Cerrou os seus olhos. - Há alguém mas esse alguém arrasta-te como se fosse invisível. Há mais gente mas eu apenas consigo discernir as pessoas da aldeia. Mais ninguém.
Sustive a respiração e engoli a seco. A minha mãe caiu no chão da cozinha como um peso morto, embatendo com a sua cabeleira negra e farta no chão. Socorremo-la e colocámo-la na sua cama. Ela andava a dormir mal. A consternação que eu lhe causava era suficiente para a manter insone naquele mês e talvez nos meses periféricos.
Angie e eu ficámos a cuidar da casa e enquanto tratávamos do jantar, ela permanecia num silêncio sepulcral.
- O que achas que a mãe quis dizer com aquilo? - questionei, mirando o seu rosto alvo tornando-se inexoravelmente encarnado à medida em que a lenha era consumida.
- Ela quis dizer que vais cair numa armadilha, Benny. Tu és especial. Ninguém é dotado de um poder como o teu.
Olhei-a com indignação.
- Eu sou especial? Dotada de um poder? - questionei retoricamente com o sobrolho franzido. - Achas que reviver aquilo que eu revivo, ver tudo como se estivesse lá, sentir tudo o que num pretérito já senti é um dom? É um pesadelo, Angela! Um pesadelo! - bradei, continuando a descascar as batatas. - Tu sim, tu tens um dom digno. Um dom que podes usar e que não te é nefasto nem aos que te rodeiam.
- Experimenta dizer isso à mãe. Aparentemente ambas estamos amaldiçoadas, Ben.
- E por quê? - inquiri com acrimónia.
Angie suspirou e baixou a sua cabeça deixando os seus cabelos negros pendentes.
- Não sei. Não sou eu que guardo as respostas, Ben. Pergunta a quem sabe. Acho que é uma boa ideia hoje ires ao serão programado por Abnara. Certamente falar-te-á das lendas que por aí se constam.
Quando a noite caiu e as estrelas cobriram todo o céu, a escassos metros do local onde vivíamos, ouviam-se vozes risonhas e pessoas a fazerem uma fogueira. Calcei as minhas meias mais grossas e chamei por Angie que fazia questão de me acompanhar. Tal como todos os outros habitantes, sentamo-nos em torno da fogueira onde faúlhas eram constantemente expelidas.
Abruptamente, Abnara aproximou-se como sempre trôpego, mas com um sorriso no semblante. Sentou-se ao meu lado e olhou-me de uma forma que me intimidou.
- Fico feliz que nos encontremos aqui reunidos nesta noite. - começou. - Há já algum tempo que não fazíamos este tipo de convívio mas achei deveras pertinente a realização de um. - fez uma pausa mirando cada rosto que o olhava. - Vocês sabem do mito que lendas são apenas lendas e que nunca passarão muito para além disso. Eu já tive a idade da maioria de vocês aqui presentes e sei que o cepticismo reina quando não se pode verificar empiricamente. Eu percebo. - Sorriu. - No entanto, mesmo eu tendo permanecido calado durante mais de dez anos, estou hoje disposto para contar as lendas que me foram contadas num passado bastante remoto. - Esticou as suas mãos em direcção à fogueira para as aquecer. - A primeira que ouvi, teria eu uns nove anos, referia-se a algo que se passou num passado bastante recente. Uma vez uma mulher apaixonou-se por um nobre que tinha uma quintas férteis para Sul. Sendo ela uma mera mulher do campo, não foi aceite pelos pais do rapaz, nomeadamente o pai que se opunha totalmente à junção do casal. Mesmo depois de ameaças, guerras entre as famílias dele e dela, eles acabaram por fugir mas, tão pouca foi a sorte, que o pai do rapaz os encontrou e teve um ataque cardíaco. - Os olhos de algumas pessoas esbugalharam-se e algumas mulheres esconderam os rostos. - Acabando por falecer. No entanto, antes desse triste acontecimento, avisou que na terra onde eles pisassem os pés nunca mais haveria paz. Se houvesse, apenas era efémera e que eles nunca, mas nunca iriam ter sossego na sua vida terrena. De facto, eles pararam em várias aldeias mas apenas uma lhes pareceu o local ideal para viver: Mystic Nights. Como todos sabem, Mystic Nights era a nossa aldeia antes da invasão. - Novamente fez uma pausa. - Durante imensos anos a harmonia reinara na aldeia. O casal teve filhos e quando o auge da felicidade se abatia sobre eles, a invasão tirou a vida de ambos, deixando apenas as crianças. Segundo a lenda, elas foram criadas como selvagens e desenvolveram capacidades que nenhum outro humano pode desenvolver.
- Que tipo de capacidades, Abnara? - inquiriu um rapazito.
- Não sei. Nunca mo disseram. - respondeu. - Ainda há uma mais intrigante em que os nossos antepassados eram descendentes de feiticeiros mas, como sabem, a era das bruxas foi extinguida e eles não foram excepção. Bem, houve uma excepção. A aldeia foi tomada pelos bárbaros que chacinaram a aldeia mas um sobrevivente decidiu vingar-se e lançou um feitiço sobre os homens: não podiam nunca olhar para trás se não ficariam transformados em pedra. Como tal facto era impossível, em pouco tempo toda a aldeia foi transformada em estatuetas. Para encobrir o seu crime, fez com que a neve tomasse eternamente conta daquele local e daí à neve nunca se fundir nas montanhas. - concluiu.
Todos concordavam com as lendas que Abnara apresentava mas eu mantinha-me céptica.
- Eu acredito que há uma linhagem na nossa aldeia que pode ser nefasta a todos nós. - continuou, mudando de assunto. - Acredito que há uma pessoa responsável pela destruição da aldeia há doze anos atrás e, embora não haja ligação nem forma de o comprovar, a verdade é que os relatos das invasões são sempre os mesmos: invasões sem razões aparentes.
- E quem sabe se o responsável não é membro dos tiranos que nos invadiram? - inquiri.
Abnara olhou-me com insignificância, como sempre fazia.
- É uma boa teoria, Benedith. São apenas lendas. Escusas de levar tão a sério.
Ia responder-lhe se Angie não me tivesse dado uma cotovelada.
- Queria alertar-vos para que se vissem algo de bizarro nas nossas terras, me avisarem. Todo o cuidado é pouco e se estas invasões têm vindo a ocorrer desde que há quinhentos anos, o melhor é mantermo-nos alerta.
Todos assentiram com a cabeça e levantaram-se, dirigindo-se para as suas habitações inclusive eu e Angela.
- Ben, acho que aquele comunicado era para nós.
Olhei-a de soslaio. Não desconfiava que, mais cedo ou mais tarde, conspirassem contra nós.
- Era, tens toda a razão. Eu preciso de sair daqui, Angie. Vocês não têm de vir. Eu sei cuidar-me.
Angela olhou-me com a sua boca aberta e os seus olhos miravam-me como se eu fosse uma demente.
- Mas tu és completamente insana! O que achas que a mãe iria dizer? Não podes fazer isso!
- Não só posso como o vou fazer. - Desviei o meu olhar do seu. - A mãe sabe que há coisas que precisam de ser feitas. O pai também se sacrificou por nós. Agora é a minha vez.
- Não, tu não deves estar a pensar com clareza, Ben. Não vais sair assim sem um local para ir!
Sorri e afaguei o seu cabelo rebelde.
- Talvez esteja mais lúcida do que tu julgas. É o correcto a fazer. Não se vão sacrificar vocês por mim. - Suspirei. - Amanhã falamos com mais calma. 

13 comentários:

Riga/V-1-Boy disse...

bem isto vai interessante

olha ja resolvi aquela cena no meu blog acho que ja nao ha crise em lá voltares e comentares, se aparecer a dizer algo sobre outro blog, bem se nao fores a esse blog nao ha crise

Anónimo disse...

Olá querida! Mais uma vez, adorei!
Beijinhos :D

Cassandra Lovelace disse...

Sem dúvida, que adoro este teu registo! Diz-me uma coisa, estás a cortar nas descrições longas como fizeste em 'Como desaparecer completamente?' E devo-te um opinião sobre o que me já mandaste e já li uma boa parte mas sabes como é ... há sempre mais alguma coisa a fazer e outras que ficam para trás. A história está cada vez mais intrigante, estou mesmo à nora! Não faço ideia do que a Ben possa ter para ter que sair da aldeia ou até mesmo a razão pela qual a Angie dorme no celeiro. Muito misterioso e adoro mesmo. Estou uma fã incondicional desta história e cada vez mais me prendes!
kiss, Cassandra

r u t h disse...

Eu gostei muito deste capítulo, no entanto, intrigante em relação às lendas e o mistério que paira à volta da Ben. Estou a gostar. :D

Phage disse...

Está a ser bem interessante mesmo!
Espero por maaais! :DD

Seja que livro for, eu depois tenho de o comprar! ;)
hehehe ^^

Unknown disse...

Esta história está cada vez mais intrigante e misteriosa. Penso que Ben tenha algo a ver com as tais lendas, seja alguma descendente ou algo assim...
Gostei muito da cena da fogueira, da personagem contando as lendas, deu para imaginar perfeitamente.
Aguardo por mais capítulos.

martasousa disse...

vou seguir o blog, gostei.

Sofia Costa disse...

Gosto muito da continuação que tens dado a esta história, acho que se está a desenrolar muito bem e todo o misticismo que a está a envolver dá-lhe um toque incapaz de deixar alguém indiferente! Apercebi-me, e corrige-me se estiver errada, que andas a cortar nas descrições e nos pormenores, pessoalmente e como já te disse anteriormente acho que um texto rico em pormenores tem outra vida, no entanto acho que o corte, apesar de visivel, não é imenso e os pormenores continuam a caracterizar o texto na perfeição... continua assim miuda, and see you soon :D beijinho

łnn Gray disse...

Agradeço imenso essa ideia, se não te importares :)

Anónimo disse...

Novamente, sem ter a ver com esta entrada específica. "Mais um selo pá".

Rita disse...

Devo-te um obrigada enorme por essas palavras. E sim, ando a ler todas as histórias e adoro, são viciantes! Um beijino*

łnn Gray disse...

ahah, de nada, o teu blog é um encanto e esta afirmação tem suporte de testemunhas :D
E é verdade, é muito ao estilo British, por isso continua Maestra :D

Anónimo disse...

Eu concordo com o Christian, tenho quase a certeza da Ben ser uma das descendentes que desenvolveu capacidades invulgares. Também acredito que haja aí uma relação entre essa descendência e a perseguição que lhe fazem... ou então o rapto foi a recordação de algo. Talvez dela aquando das invasões, considerando que ela é uma descendente... ou memórias de uma outra vida, ou uma imortalidade... Não sei.
Tu, rapariga, és uma escritora impressionante.