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domingo, 20 de novembro de 2011

Setembro - O Pacto (Cap. X)

Jason:
Revi em Benedith o que mais receava: a mudança de tonalidade, oscilando entre a sua pele pálida a um branco quase imaculado. Eu sentia-a contorcer-se nos meus braços, esforçando-se por não emitir nenhum som agudo nem retumbante para não atrair mais animais da noite. Os seus olhos, outrora negros, cheios de fúria e jovialidade tornaram-se mais pacíficos e semicerravam-se continuamente com a falsa expetativa de a dor cessar.
Abruptamente da sua garganta saiu um grito agudo que me fez perceber o quão impotente me sentia por não conseguir ser mais rápido. O seu peso nos braços dificultava a minha locomoção sobrenatural mas, mesmo assim, não era suficiente para conseguir com que ela não sofresse.
Olhei em frente apercebendo-me que ainda tinha de subir aquela encosta. Respirei fundo e recostei-a no meu peito. Os seus olhos, quase sem expressividade, fixavam os meus. Não sabia se ela estava consciente ou se tinha arranjado um mecanismo para suportar a dor. Comecei novamente arrancando tufos de erva à passagem devido à extrema velocidade.
Agora percebo por que razão dizias que não me querias transformada, ouvi a voz de Ben dizer-me. Fixei-a mas a sua expressão inerte e desprovida de sentidos ainda permanecia.
- Ben? Estás a mandar-me mensagens mentais? - inquiri, sentindo-me um palerma por estar a falar sozinho.
Óbvio... Esqueceste-te que descobri como o fazer? Por favor, tira estas chamas que me consomem! Parece que me atiraram a uma fogueira! Eu sei que vais conseguir.
- Estou a tentar fazer isso, Ben. - fiz uma pausa. - Por favor, não deixes de falar comigo.
Enquanto eu sobreviver, eu falarei contigo., respondeu.
O ânimo que a sua voz me havia dado, foi fulcral para a continuação da minha marcha veloz. Como não tínhamos assunto, Benedith trauteava uma canção melodiosa que me acalmava e me fazia correr por entre as árvores e os ramos que me fustigavam o rosto sem que eu me importasse com isso. Apenas me preocupava o facto de não a conseguir salvar a tempo e ela tornar-se uma semelhante a mim. Inopinadamente, a sua voz silenciou-se numa das notas mais agudas. 
- Ben? - chamei, abanando-a enquanto corria. 
Nada me respondeu. Repeti o mesmo procedimento mas ela não me respondia. Apercebi-me do que se estava a passar e corri o máximo que pude.
- Aguenta-te, por favor, não deixes de lutar! - bradei.
Corri até à exaustão. Procurei o casebre de Marcian, o curandeiro que me havia tratado na minha transformação e que me tinha dito que se me tivesse encontrado mais cedo, eu ainda poderia ser um humano normal e imortal. Poderia jurar que ele vivia no primeiro do lado Oeste mas não conseguia sentir o seu cheiro. Caminhei até ao cume da montanha para conseguir absorver os cheiros de todos os lados da colina mas ali, o cheiro de Marcian intensificava-se, irritando-me as narinas devido ao seu cheiro nauseabundo. Ele apenas poderia estar a habituar no imponente casebre. Sem me conter, colidi contra a porta derrubando-a como se se tratasse de uma placa fina e lá o encontrei aninhado a um canto, reacendendo a lareira que entretanto se apagara.
- Por favor, Marcian, preciso da tua ajuda. - disse, mal ele vislumbrou que era eu.
- Jason. - exprimiu, em tom de perplexidade. - Entra e fecha a porta... ou melhor, deixa-a estar que depois consertas.

Coloquei o corpo imóvel e rígido de Ben em cima da cama que rangeu assim que a pousei cuidadosamente. Descalcei-lhe os pés e Marcian aproximou-se dela colocando sobre a sua pele alva e gélida a sua mão encorrilhada.
- Jason... - iniciou ele com o seu habitual tom de voz baixo. - ela só tem uma hora até à transformação se suceder.
Fitei os olhos encovados e exaustos de Marcian a olhar-me como se me fosse pedir algo muito árduo.
- Diz o que preciso fazer. Eu preciso de salvá-la!
Ele largou o seu braço e colocou a sua mão no meu ombro. Estendeu-me um punhal em prata e um molho de ervas, colocando-mas à frente do nariz.
- Estás a ver estas ervas? São catorze e precisas de encontrar a décima quinta nas Montanhas Rochosas, a Sul. Aquele íncubo do Sean fez questão de nunca vos proteger verdadeiramente. - Fez uma pausa. - Precisas de encontrar uma flor violeta com quinze pétalas na encosta Sul da montanha. Nesta altura do ano encontrarás poucas, portanto, faz-me o favor de a trazeres intacta e com todas as pétalas. Precisamos de a fazer ingerir um antídoto. - Colocou o punhal na minha mão. - Toma isto e corta o teu pulso longitudinalmente. Preciso do teu sangue e das ervas para conseguir salvá-la.
Agarrei o punhal decido a fazê-lo o mais depressa possível. Voltei a parte contundente para o meu pulso, rasgando e fazendo colidir o meu sangue espesso e quente com uma tonalidade bizarra num recipiente de prata em forma de cálice. Franzi o sobrolho com a dor que me assolava o pulso e amarrei um pano em torno, voltando para o exterior e vislumbrando as Montanhas Rochosas que se elevavam majestosamente a Sul.
Acelerei o meu processo de transformação sentindo o sangue nas minhas veias fervilhar como se estivesse prestes a entrar em ebulição e corri o mais que podia até ao local que Marcian me havia indicado.
As rochas com gumes e cheias de musgos faziam as minhas patas doer e escorregar. Mentalmente, lancei tantos impropérios que nem eu próprio me conhecia. Tinha de continuar, pensei. Não por mim, não por ela... mas por nós.
As rochas tornavam-se cada vez difíceis de atravessar e galgar. No cimo da montanha predominava uma bruma bizarra que não me deixava ver com precisão, mesmo com a minha visão avançada, as rochas que se elevavam fazendo embater vezes sem conta contra elas. Porém, outras assemelhavam-se a um pavimento de tijoleira encerado e escorregadio que me fazia cair um lance de rochas em poucos segundos, magoando-me as costelas e rasgando a carne que as revestia. Mas apenas faltavam exíguos metros para chegar a cume.
Com toda a força que tinha nas patas, saltei e colidi na rocha onde supostamente deveria estar a flor. Mas não estava. Voltei à minha forma humana para vislumbrar com mais cuidado mas nenhuma flor violeta se exibia. Saltei daquela rocha e vi a flor violeta amachucada precisamente no local onde eu tinha colocado as patas. Senti o temor abater-se sobre mim. Tinha pisado a última réstia de esperança que tinha em fazer Benedith uma mulher normal.
Exasperado e sem rumo, procurei por toda aquela zona mas nenhuma outra flor se fazia ver. Abruptamente ouvi um som esquisito por entre a vegetação e passadas humanas. Desembainhei um punhal e coloquei-me numa posição defensiva atento a qualquer emboscada.
- Tem calma, Jason. Sou apenas eu. - disse Sean como se fosse ainda meu súbdito.
Tentei cravar o meu punhal nele mas conseguiu escapar a tempo.
Olhei-o com desdém mas ele continuava impávido, com os dedos entrelaçados uns nos outros e sorrindo afavelmente.
- Sean, se não queres ser morto, aconselho-te vivamente a saíres daqui o mais depressa possível porque, caso não te lembres, posso perfeitamente transformar-te e tornar-te meu alimento.
Ele soltou uma gargalhada, curvando-se sobre si próprio.
- Ambos sabemos que não terias coragem, Jason. - Fez uma pausa persistindo no seu rosto o sorriso maléfico. - Mas não é por esta razão que aqui estou. - Circundou-me fazendo o meu punhal embater nas rochas sem que o meu cérebro desse conta. - Ouvi rumores que a tua última esperança em salvar Ben do destino que a assola neste momento e que tu tanto negas, está prestes a concretizar-se.
Franzi o sobrolho.
- Como podes ouvir rumores se acabou de acontecer? - confrontei.
- Há mentes muito ruidosas por aqui, rapaz. Mas, tal como disse, eu venho dar-te uma oportunidade porque sou muito boa pessoa.
- Uma oportunidade?
- Óbvio! Não queres a tua Ben querida no seu estado normal? Se queres, ouve com atenção porque só vou dizer uma vez: estou aqui para fazermos um pacto. Pacto esse que consiste em me dares o teu poder, no prazo de dois meses, e eu dar-te-ei a flor que tanto anseias. - Sorriu. - O que me dizes, Jason? Pensa bem, é uma oportunidade única!
Sean estendeu-me a flor com as quinze pétalas e violeta mostrando que estava a ser verdadeiro.
Estendi-lhe a mão e apertei-a, colocando a flor na sacola para não a amachucar.
- Feito. - respondi. - O que acontece se não te der o meu poder?
- Vais dá-lo, não quererás que eu me revolte contra ti porque garanto-te que serei o teu pior pesadelo, Jason.
Desapareceu de imediato e eu apressei-me a voltar para junto de Marcian e Ben.
Mal entrei na porta, vi o corpo de Ben contorcer-se com dores dilacerantes. Os seus cabelos lisos e negros colavam-se no seu rosto pálido e quase sem vida. As feridas que o lobo lhe havia feito estavam a começar a desaparecer, o que significava que estava prestes a ocorrer a transformação.
Marcian pegou de imediato no cálice e eu estendi-lhe a flor. Ele colocou cada pétala no sangue dizendo umas palavras numa língua morta que eu desconhecia e um vórtice formou-se no fluído.
- Está pronto. - disse. - Ajuda-me a segurá-la, ela precisa de beber isto.
Torci o nariz ao imaginar que ela iria ter de beber o meu sangue mas se isso lhe pouparia uma vida como a minha, não me importava.
Segurei o seu corpo que se contorcia continuamente e Marcian fê-la ingerir todo o fluído. A pouco e pouco as convulsões acalmaram e o seu corpo repousou naquela cama voltando a adquirir o mesmo tom rosado da sua face.
- Vai descansar, Jason. - disse Marcian pousando a sua mão no meu ombro. - Mas antes disso, explica-me como conseguiste arranjar essa flor. Há uns dias fui ver o crescimento das Fanning e a única que lá havia não se assemelhava a esta. A que trouxeste é bastante mais desenvolvida. - observou.
Baixei o olhar e puxei um banco para me sentar.
- Eu pisei a flor, a única que lá estava e apareceu Sean que me fez um pacto que consistia em eu lhe dar o meu poder e ele dar-me-ia a flor.
Marcian fitou-me com incredulidade.
- Tu nunca leste o Livro dos Demónios? - inquiriu, levantando-se para o ir buscar. - "E aquele que der o último poder que falta ao íncubo, será morto em instantes por si próprio e o íncubo passará a ser o guardião de todas as florestas, alimentando-se dos perdidos e dos desolados. Será o imortal mais temido."
Esbugalhei os meus olhos e finalmente percebi o que Sean realmente queria.
- Eu... eu não sabia disso! Claro! Agora tudo faz sentido! - exclamei. - Misteriosamente todos os poderes das pessoas da aldeia desapareciam e ele continuava a ser detentor de mais poderes e tornava-se cada vez mais forte! Ele fazia pactos com as pessoas e neste momento só lhe falta o meu poder. - constatei. - Ele precisa do meu poder para ser o guardião das florestas! Ah! Mas eu não vou permitir!
- Não, ele não necessita só do teu poder. Ouve o resto: " Se o bom e justo tiver alguém na sua vida, alguém que o impulsione, viverá em comunhão com essa pessoa sendo impossível dissociar. Se o bom e justo der o seu poder, arrancará de si a pessoa que mais ama, ficando às ordens do íncubo."
Franzi o sobrolho e interiorizei a mensagem.
- Isto quer dizer que tu e aquela rapariga que está na cama são impossíveis de dissociar por qualquer humano mas o íncubo conseguirá fazer isso caso lhe dês o teu poder. Como ambos têm poderes, ambos serão mortos.
Olhei-o com temor.
- Isso não vai acontecer nunca, Marcian. Eu não lhe vou dar o meu poder.
- Então, nesse caso, prepara-te para uma guerra. 

P.s Rapariga de Mochila, não consigo comentar o teu blog, ou melhor, nem sei se dá mas se der, explica-me como o fazer porque não encontrei lá a caixa de comentários! 

8 comentários:

Flávia Martins disse...

A história está fantástica, escreves de uma maneira que leva os leitores a ficarem viciados na história e a sentirem em alguns momentos que estão dentro da própria história, é incrível!

Cassandra Lovelace disse...

Woow. (apenas isto)
Sobre Sean : QUE CABRÃO!
Ansiosa por mais *.*

Anónimo disse...

Omg ele não pode dar-lhe os seu poder!
A história está mesmo wow!

Sofia Costa disse...

Aii! Que vicio que tu tens Hayley! Agora estou aqui a morrer de curiosidade em relação ao fim desta história! :p Parabéns, está mais que fantástico, está fantabulástico!
O rumo que o texto está a levar é otimo, muito misticismo à mistura e o medo crescente de Jason, em relação ao que acontecerá não só consigo próprio mas com Bennedith! Consegui mesmo acompanhar o desespero dele! beijinho *-*

Vanessa Santos disse...

oh adoro!

Unknown disse...

Não sei, mas penso que sou o único leitor que admira o Sean. Adoro sua astúcia. ahah.
Não se assuste, não sou do tipo que torce para os "mocinhos" e sim, ao final, quase sempre acabo decepcionado por isto.
Gostei deste capítulo, mas ainda afirmo que o anterior foi o mais fascinante de todos. Parabéns. :)

Inked Coffee disse...

Otimmo! comecei a ler do inicioo ;D
abraçosss ;D
inked-coffee.blogspot.

Inked Coffee disse...

Ah! me passa a playlist que tem no teu blog, curti de mais, otimas para desenhar e pintar. Se poder me dizer quais as musicas agradeço!

http://inked-coffee.blogspot.com