A cabeça de Jason rodou com violência e agarrou firmemente o meu pulso como se as suas mãos fossem argolas de ferro.
- Temos de sair daqui. - anunciou com um tom de voz acelerado, bem como a sua respiração.
- Por quê?
Respondeu-me como se tivesse cometido um crime ao abordá-lo.
- Não é altura de fazer perguntas. Vamos.
Puxou-me violentamente até próximo do cavalo. O meu corpo começou a tremer assim que os olhos sombrios do animal me fixaram.
- Sobe.
Retraí-me e abanei freneticamente a cabeça.
Ele pressionou as suas têmporas e cerrou os olhos e, num tom de voz semelhante a um trovão, inquiriu:
- Queres acabar numa fogueira onde vais servir para fertilização de terras? É isso que queres?
Olhei-o com perplexidade e coloquei a minha sacola contra o meu peito. De facto, não queria acabar queimada e muito menos servir de alimento aos tubérculos. Tentei não me focar no facto de estar próxima do animal que me causava uma fobia e subi com a ajuda de Jason que, logo após me ter posicionado, subiu e agarrou nas rédeas, dando sinal ao cavalo para começar a sua marcha.
Olhei para trás e tochas faziam-se ver mesmo com aquela imensa tempestade. Respirei fundo e fixei os meus olhos no caminho. Apercebi-me que aquele cavalo era um dos mais rápidos que alguma vez tinha visto e que passávamos pelas árvores e casebres abandonados a uma velocidade alucinante.
- Maldita a hora em que te disse para subires primeiro. - lamentou-se. - O teu cabelo fustiga-me os olhos e não consigo ver com nitidez o caminho.
Puxei o meu capuz e coloquei-o sobre os meus cabelos. Mudei de assunto.
- Por que razão eu iria terminar numa fogueira? - questionei docilmente.
- Porque és uma visionária e se não o és, és algo muito próximo disso. Tens uma espécie de poderes psíquicos ou até vários mas podes não os ter descoberto. - respondeu. - Snow Black extermina todos aqueles que têm qualquer poder, embora mantenham uma mulher que é quase uma refém que deteta, através das vibrações que as pessoas lançam, a ausência ou revelação desses mesmos poderes. - continuou.
Franzi o sobrolho.
- Tens algum dom, é?
- Maldição, queres tu dizer. - Soltou um sorriso pouco divertido. - Apenas tenho força e rapidez sobrehumana.
- Então, por que andas de cavalo se és mais veloz que um raio? - questionei, voltando-me para fixar o seu rosto.
- Não é assim tão simples quanto parece. Eu não posso dar nas vistas se não serei convocado para a Guerra que se avizinha e serei colocado na linha da frente. - respondeu com um laivo de consternação na sua voz.
Automaticamente lembrei-me de Angie e da sua habilidade inexplicável para armas e a sua agilidade física. Mantive-me em reflexão por uns momentos.
- E... como é que se processa este acontecimento dos dons? Certamente não nasci com ele. Não me lembro de ter qualquer habilidade em criança.
- Normalmente as pessoas detentoras de dons, descenderam de visionárias ou feiticeiras mas não há passagem de qualquer dom para o feto, embora ele esteja propenso a vir a adquirir um quando as condições são propicias. Não há uma linearidade da maneira como esse dom é despoletado, se é que me entendes. Diversas famílias têm diversas crenças e todas elas não são crenças: são factos que se podem comprovar.
Assenti com a cabeça.
Ao longe, comecei a avistar uma povoação, sobejando um edifício magnificente ladeado de cedros e abetos. Diversas casas modestas circundavam aquele palacete descolorado com uma enorme cúpula dourada.
Abruptamente tive a sensação de já ter estado naquele local mas não naquele panorama tempestuoso. Recordei ainda aquela noite em que fui amarrada e atirada para uma carroça esburacada. Fiz uma retrospetiva e lembrei-me da voz que havia falado e, em tudo, coincidia com a voz veludosa de Jason.
- Eu tenho a sensação de que já estive aqui.
Ele soltou um suspiro, detendo-se à porta de um enorme portão em ferro forjado.
- Eu já suspeitava que irias abordar-me sobre isso. Mas foi um mero engano. Pensei que fosse a altura certa de te trazer mas recebi as informações erradas.
Desceu do cavalo e abriu o portão com uma chave bastante bizarra onde estava gravada uma estrela de quinze pontas. Fixei as duas palavras que estavam escritas, igualmente a ferro forjado, imediatamente acima das lanças pontiagudas.
- Trabalhas para o Rei? - inquiri com um laivo de curiosidade, seguindo-o.
- Eu sou o Rei. - respondeu com brio.
Franzi o sobrolho.
- E... onde está a Rainha?
- Não necessito de uma rainha para saber governar, ou achas que preciso?
Encolhi os ombros e caminhei atrás dele comprimindo a neve. Chegamos até ao palacete, subindo o lance de escadas interminável e as portas abriram-se de imediato. Sacudi a minha capa negra e, mal coloquei o pé dentro do edifício senti um calafrio. Continuei a segui-lo e tirei a minha capa. O ambiente estava demasiado ameno.
- Harold, prepara um quarto. Ela fica cá. - disse a um funcionário que se encontrava por perto.
- Por que razão não vou ficar juntamente com os outros cidadãos?
Ele parou e os seus olhos fixaram os meus.
- Já te disseram que podes adivinhar muita coisa mas não te consegues aperceber das coisas mais triviais?
Os seus olhos verdes fixaram os meus e eu senti-me hipnotizar e levar para outra dimensão. Tudo o que estava naquela sala deixou de fazer sentido e a minha mente ficou livre por alguns segundos.
Alguém iria irromper por aquela sala ampla. Ouvi os seus passos. Voltei o me rosto e um homem de estrutura mediana e loiro, com uns olhos tão claros que me questionava como conseguia ver. Sorriu-me e aproximou-se de nós.
- Deves ser a Benedith Boltzman. - disse, estendendo-me a sua mão pálida. - Sean Westerfield. Eu previ a tua chegada e, como deves saber, sou descendente de feiticeiros. - Cerrou os seus olhos elevou a sua cabeça semelhante a tufos secos e inspirou lentamente. Fixou-me lentamente e acariciou a minha mão. - Pelo que me posso aperceber, és de uma linhagem um tanto diferente da minha. Tens várias ascendências.
Olhei para Jason que se mantinha ao meu lado e olhava com expetativa Sean.
- No entanto, faremos mais testes amanhã. Está a anoitecer e faremos com que as tuas subidas aos cumes sejam minimizadas. - Abriu a outra sua mão e mostrou-me um pequeno saco de serapilheira empolado. - Ervas que utilizamos como repelente de um pretérito. - explicou. - Esperemos que não sejas a exceção. Aqui não é como Mystic Nights II. Estamos em Redemption Hills e não vais querer sair à noite.
A minha respiração estagnou e olhei Jason e colocou as suas mãos nos meus ombros. Questionava-me seriamente sobre a razão pela qual eu não iria querer sair à noite.
Açambarquei o pequeno saco e coloquei-o no meu bolso. Embora Sean não me inspirasse grande confiança, não queria correr riscos.
7 comentários:
wow, just wow , a história está a levar um rumo interessantíssimo , parece que tudo deu uma viragem completa e de um momento para o outro o que poderia remontar a tempos passados , a guerras e ataques , converteu-se numa dimensão bastante distinta daquela em que nós, comuns mortais vivemos :D , wow, nunca esperei que fosse este o rumo levado pela tua imaginação. ao ler este capítulo deparei-me com uma história surreal, ligada ao "fantástico" , a poderes muito pouco banais, a gerações e descendências bastante distintas ... de facto tinhas razão quando disseste que ninguém ainda tinha bem a noção de tudo, e é verdade... pelo menos eu não tinha... muitos parabéns pelo fantástico trabalho, adorei *-*
beijinhos Hayley :)
tens imenso talento (:
Estou a adorar, dear Hayley - cada vez mais me surpreendes! Estás a tornar a história mais complexa, com mais pormenores no sentido de complicares as coisas e as relações humanas e vejo que imaginação não te falta! Espero o próximo capitulo e estou sem ideias para o que posso vir de seguida! Não sei mesmo o que esperar ou o que irás fazer ..
Beijo, Cassandra
pois é (:
desculpa, eu sei que foi simples. eu, normalmente, leio sempre o que os meus seguidores ou as pessoas a quem sigo escrevem, mas o tempo tem sido curto e isso é sinónimo de comentários curtos.
o que interessa, é que a história está linda e que é para continuar! beijinho*
wooooooow wooow woow!!!
Fantástico, amei ler :D
xoxo*
http://www.ivaniadiamond.com/
Você também tem um dom de fazer uma mudança brusca de cenários. :)
Adorei os trechos do cavalo em velocidade, senti como se estivesse cavalgando sobre um deles.
Esta história é do gênero fantástico e o mercado editorial está muito aberto a este estilo, tem muito futuro.
Algo me diz que alguém será rainha. ahah.
Mui bueno, como já vem sendo hábito.
Só não percebi uma passagem.
Diversas famílias têm diversas crenças e todas elas não são crenças: são factos que se podem comprovar.
Qual a relação entre isso e o que estava a ser dito antes?
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